Empenho na batuta
Thierry Fischer, próximo regente da Osesp, quer criar uma conexão com a orquestra e a cidade que o acolheram — o que seus antecessores não chegaram a fazer
Não foi muito auspiciosa a estreia do maestro Thierry Fischer à frente da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), como regente convidado, em 2016. Antes dos ensaios, o suíço foi acometido de febre e dores de estômago. A violoncelista argentina Sol Gabetta, que seria a solista do concerto, cancelou sua participação, o que obrigou a orquestra a mudar o programa do fim de semana. E Fischer ficou afônico no dia seguinte ao de sua chegada a São Paulo. “Os problemas de saúde não me impediram de fazer um bom trabalho e de me afeiçoar aos músicos”, diz o maestro. A persistência compensou: Fischer retornou a São Paulo em setembro do ano passado, quando foi informado da partida iminente da regente titular, a americana Marin Alsop, no fim de 2019. Três meses depois, soube que estava no páreo da sucessão. Na segunda-feira 10, Fischer foi anunciado como o próximo regente titular da Osesp, que conta com um orçamento de 110 milhões de reais. Ele assume o cargo em março de 2020. Ainda neste ano, em julho, dará uma prévia de seu trabalho, em dois concertos gratuitos para comemorar os vinte anos da Sala São Paulo.
Fischer, 61 anos, bateu fortes concorrentes, como o americano David Robertson, o francês Louis Langrée e o nicaraguense Giancarlo Guerrero. “As referências que ouvimos dos instrumentistas que tocaram com ele e o trabalho que fez com outras orquestras foram fundamentais para que optássemos por Fischer”, afirma o trombonista Wagner Polistchuk, que fez parte do comitê de busca do novo titular da batuta. Outro ponto definidor na escolha está no interesse do suíço em trabalhar o repertório erudito brasileiro.
Fischer ficará oito semanas à frente da Osesp em 2020. Comandará, entre outras peças eruditas, as sinfonias de 1 a 8 de Beethoven, além de sua Missa Solemnis — a maratona faz parte das comemorações do aniversário de 250 anos do gênio de Bonn. No ano seguinte, o suíço passará até quinze semanas no país, regendo e fazendo programas culturais.
O novo maestro titular pretende se comprometer mais com a orquestra e a vida cultural local do que seus antecessores. O atrapalhado Yan Pascal Tortelier, francês, não deixou grande marca em seu período como regente, de 2009 a 2012. Marin Alsop, que lhe sucedeu, teve seus méritos: levou o grupo sinfônico ao Proms, renomado festival de música clássica em Londres, e fez uma excursão pela China. Mas a americana, que tem trabalhos sociomusicais consistentes em Baltimore, onde comanda a orquestra local, nunca abraçou efetivamente os músicos e a comunidade de São Paulo. Thierry Fischer, por seu turno, diz que pretende até encontrar uma residência na cidade (Alsop vivia em hotéis). “O segredo de um grande líder é estar presente”, diz o maestro.
Flautista de formação, Thierry Fischer tocou na orquestra da ópera de Hamburgo e na de Zurique, bem como na Orquestra de Câmara da Europa. Teve suas primeiras aulas de regência com Nikolaus Harnoncourt (1929-2016), que lhe deu impulso para a decisão de largar o naipe de sopros e assumir definitivamente a batuta, no fim dos anos 80. “Ele me mostrou que não posso reger nada sem estudar cada obra a fundo”, lembra. Fischer mantém vínculos regulares com outras duas orquestras: é diretor musical da Sinfônica de Utah, nos Estados Unidos, e o principal regente convidado da Filarmônica de Seul, na Coreia do Sul. Até 2024 pelo menos, quando termina seu contrato, ele estará por aqui.
Publicado em VEJA de 19 de junho de 2019, edição nº 2639
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