‘Estou em todo o mundo bruxo’, diz designer brasileiro de ‘Harry Potter’
Eduardo Lima, que trabalhou em boa parte da saga do bruxinho, vai falar sobre sua trajetória na Comic Con Experience, nesta sexta-feira, 7 de dezembro
Entre os muitos nomes creditados ao fim dos filmes da saga Harry Potter está Eduardo Lima, o brasileiro que assina o design gráfico da produção. Ele é responsável por criar objetos que vão desde o Mapa do Maroto, em O Prisioneiro de Azkaban, até as etiquetas das caixas de varinhas da loja do Olivaras. “Estou por todo canto do mundo bruxo”, diz o mineiro em entrevista a VEJA. Depois de anos morando na Inglaterra, Lima volta ao Brasil para falar na Comic Con Experience sobre sua trajetória na saga fantástica, na sexta-feira, 7 de dezembro.
Lima entrou em contato com esse universo por acaso. Enquanto ainda trabalhava no Brasil em montagem e edição de som, em 1999, ficou sabendo, por uma colega, de uma produção sobre “um menino órfão e bruxo”. Na época, os livros de Harry Potter ainda não haviam sido traduzidos para o português – A Pedra Filosofal, primeiro volume da saga, foi lançado pela editora Rocco no país apenas em 2000, três anos depois de chegar às livrarias da Inglaterra.
Quase dois anos mais tarde, Lima se mudou para Londres, a fim de trabalhar com cinema. Lá, ele conheceu sua futura sócia, a italiana Miraphora Mina, que lhe ofereceu um estágio no departamento de design gráfico de Harry Potter e a Câmara Secreta. “Ela não tinha uma vaga para mim naquele momento, mas me convidou para ficar como estagiário por duas semanas, que viraram cinco meses.” Apesar de sua contribuição ter começado em A Câmara Secreta, o segundo longa, Eduardo Lima aparece creditado como designer gráfico apenas a partir de O Prisioneiro de Azkaban.
As adaptações para o cinema das histórias de J. K. Rowling já arrecadaram quase 3 bilhões de dólares no mundo, segundo o site Box Office Mojo, mas quando Lima começou a trabalhar na franquia o cenário era mais humilde. “Os estúdios onde foram gravados os filmes eram, antes, uma fábrica de motor de avião da Rolls Royce. No começo, não tínhamos muito luxo. Era um ambiente charmoso, mas meio capenga. Os banheiros eram frios, os carpetes, manchados. Nosso orçamento não permitia nem que imprimíssemos todos os livros que figurariam no escritório de Dumbledore, então usamos listas telefônicas antigas encapadas no lugar.”
O trabalho do designer gráfico começa cerca de seis meses antes da gravação do filme. “A partir do roteiro, elaboramos duas listas. A primeira descreve todos os objetos de ação, aqueles que são manipulados pelos atores e terão relevância no longa, como o Mapa do Maroto em O Prisioneiro de Azkaban. Esses os diretores e produtores precisam aprovar. A segunda, bem mais extensa, elenca todos os outros itens que estarão na cena, como os acessórios que ficam sobre a mesa dos duendes no banco de Gringotes”, explica. A partir daí, começam a trabalhar na criação desses objetos, com carta branca de J.K. Rowling.
“No Profeta Diário (o jornal do mundo bruxo), por exemplo, apenas as manchetes eram criação de Rowling, o resto era tudo por nossa conta.” A dupla aproveitou a liberdade para registrar sua contribuição ao universo de Harry Potter. “Meu nome e da Mira estão espalhados por todos os cantos. Estou creditado como editor-chefe do Profeta Diário. Caxambu (MG), minha cidade natal, também é citada — uma vez ela foi sede de uma conferência bruxa”, conta.
Junto com Mira, ele fundou uma empresa de design gráfico voltada para o cinema, a MinaLima, que assina, além de todos longas da saga Harry Potter, produções como o indicado ao Oscar O Jogo da Imitação, e a nova franquia Animais Fantásticos. Boa parte dos objetos utilizados nos filmes está exposto, hoje, em um pequeno museu em Londres, que leva o nome da companhia.
Eduardo Lima participará do painel “Um brasileiro no mundo bruxo de J.K. Rowling”, que acontece na sexta-feira, 7 de dezembro, às 20 horas, no Auditório Ultra da CCXP, e. São Paulo.