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Os números do impacto da pandemia no mercado nacional de shows

Levantamento indica que mais da metade de eventos no país serão cancelados em 2020, com prejuízo de centenas de milhões e 580 mil demissões

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 2 abr 2020, 17h48 - Publicado em 2 abr 2020, 16h49

Ninguém duvida que a epidemia de coronavírus já causou prejuízos gigantescos nos shows e eventos do Brasil. Agora, três semanas depois do início das medidas de distanciamento social no país, começam a surgir os primeiros dados concretos deste impacto. E eles são impressionantes.

Um censo realizado pela Abrape (Associação Brasileira de Promotores de Eventos), a que VEJA teve acesso com exclusividade, mostra que 51,9% dos eventos previstos para ocorrer este ano foram cancelados, adiados ou estão em situação incerta. Outro dado assustador, também divulgado pela entidade, que reúne entre seus associados cerca de 60% do PIB de eventos do país, é o de que cerca de 580 mil profissionais da área poderão perder os empregos em todo o Brasil.

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Doreni Caramori Junior, presidente da entidade, está apreensivo. “É um cenário sem precedentes. Estimamos que 300 mil eventos deixarão de acontecer. Nosso setor está 100% fechado”, disse. “Se considerarmos a população total de trabalhadores, algo em torno de 1,9 milhão de empregos, estamos falando em prováveis 580 mil demissões.”

A Abrape reúne entre seus associados a Festa do Peão de Barretos, o festival Fortal, em Fortaleza, as empresas Move Concerts (responsável por shows como o do a-ha e Michael Bublé) e Workshow (de artistas como Marília Mendonça, Maiara & Maraísa, Henrique & Juliano e Zé Neto & Cristiano), além de outras 200 entidades do setor.

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Outro dado relevante que a pesquisa apontou é que 92% das empresas associadas já relataram prejuízos que, juntos, somam R$ 290 milhões. A entidade estima ainda que esse número possa chegar à casa dos bilhões se somada toda a cadeia produtiva do setor de eventos, que envolve em torno de 60 mil empresas. O prejuízo frustrou as boas expectativas desse mercado para 2020, que estimava um aumento de receitas em shows e eventos de 6,15% em relação ao ano passado.

Para tentar mitigar os números negativos, a Abrape, assim como outras entidades do setor, está pedindo que o público não peça o estorno do dinheiro dos ingressos dos shows adiados – transferindo parte do prejuízo, na prática, para o público pagante. Também querem ajuda ao governo federal: pedem carência de 180 dias no pagamento de tributos e a abertura de linhas de crédito.

Os efeitos devastadores da crise, no entanto, serão sentidos principalmente em eventos culturais do interior do país, que não têm tanto capital de giro para suportar a abrupto encerramento das atividades. Festas de peão, exposições agropecuárias, festa juninas e pequenos festivais também estarão entre os principais prejudicados. Em Ribeirão Preto, por exemplo, a tradicional festa de peão e o festival João Rock foram adiados. O rodeio, que ocorreria no final de abril, ainda não tem nova data. O João Rock, que atraiu cerca de 60 mil pessoas no ano passado, e seria realizado no dia 6 de junho, foi remarcado para 12 de setembro. A edição de Belo Horizonte do festival sertanejo Villa Mix, marcada para 4 de abril, também foi adiada. A festa do peão de Barretos, que acontece na última semana de agosto, ainda está mantida, mas também corre o risco de ser adiada.

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Rogério Paes, sócio da Luan Promoções & Eventos, que cuida da carreira de artistas como Marcelo Falcão, Márcia Fellipe e Wesley Safadão, está cauteloso com as decisões que vai tomar nos próximos dias. Um dos maiores eventos da sua empresa ocorrerá em novembro: o cruzeiro marítimo de Wesley Safadão, em que o artista gravará seu novo DVD. Vale lembrar que, após o início da pandemia, muitos cruzeiros ficaram ancorados com os passageiros proibidos de desembarcar, em situação dramática. “O nosso é só no final do ano. Até lá, espero, que a epidemia já tenha terminado. Quase todas as passagens já foram vendidas. Não tivemos nenhuma devolução.”

Elver Varjão, dono da Panda Produções, que já trabalhou na produção de DVDs de artistas como Matheus & Kauan, Marília Mendonça e Maiara & Maraísa, contou que nos últimos dias seu trabalho deixou de ser o de produtor – ele agora se autodefine como um “desprodutor”. “Toda a rede que envolve eventos foi afetada: infraestrutura, alimentação, setor hoteleiro, transporte, etc. Estou tendo que desmarcar tudo o que fiz sem saber quando tudo isso voltará.”

Em São Paulo, os donos de casas noturnas já trabalham com o semestre perdido. Marco Antonio Tobal Junior, sócio-diretor das casas Espaço das Américas e Villa Country, prevê dificuldades para remarcar espetáculos internacionais e alerta que haverá saturação de eventos no final do ano. “Um artista vem para o Brasil numa turnê maior que inclui outros países da América Latina. É preciso negociar com todos esses lugares. É um quebra-cabeças. Os últimos cinco meses do ano provavelmente estarão saturados de eventos com sobreposições de datas.”

O estado atual do entretenimento no mundo é de apagão, em um mercado global de shows estimado em 29 bilhões de dólares. Para se ter uma ideia da dimensão da crise, todos os 31 espetáculos musicais da Broadway, em Nova York, foram encerrados. Encravada no coração de Nova York, epicentro da epidemia nos Estados Unidos, a meca dos musicais prevê perdas de 565 milhões de dólares.

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