Se o início da vida escolar não é fácil para muitas crianças, seus obstáculos foram ainda mais árduos para o escritor Fabrício Carpinejar. O popular poeta de Caxias do Sul (RS) usava botas ortopédicas e se comunicava de um jeito peculiar. Filho de dois poetas, aprendeu a falar com metáforas e perdeu um semestre por não conseguir acompanhar as aulas, que pareciam dadas em outro idioma. O modo heterodoxo de se expressar, quem diria, rendeu-lhe na época o diagnóstico médico de “retardo mental” — prontamente refutado pela mãe, que contratou uma professora particular para dar aulas em casa ao filho. “Era como um recreio eterno”, diz ele sobre a alfabetização realizada por meio de jogos e brincadeiras. A estratégia funcionou: em dois meses, Carpinejar voltou para o convívio da sala de aula, lendo e escrevendo melhor do que os colegas. A introdução pouco usual às letras ainda ganhou o reforço do incentivo doméstico: seus pais escondiam fotos dentro de livros, fazendo com que ele e os irmãos caçassem os presentes ao longo da leitura. Aos 8 anos, seu primeiro poema foi impresso no convite do velório da avó. Um começo doce, mas melancólico — que diz muito sobre o que viria a ser sua carreira.
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Hoje, aos 47, Carpinejar já publicou 45 livros, entre poemas, crônicas, romances e reflexões, todos banhados de pérolas que vão das agruras do amor até filosofias cotidianas. Colo, por Favor!, lançado em maio pela editora Planeta, tornou-se sensação entre os leitores em busca de alento no auge da pandemia. Com o sucesso da obra, ultrapassou a notável marca de 700 000 cópias vendidas na carreira. “Continuo sendo estranho, mas agora sou um estranho conhecido”, brinca. As vendas graúdas têm muito a dever à popularidade de Carpinejar tanto na televisão, onde se tornou figurinha fácil de programas como o Encontro com Fátima Bernardes, quanto nas redes sociais, que o alçaram ao posto de influenciador literário. Frases curtas de sua autoria são compartilhadas a granel por seus mais de 2,6 milhões de seguidores somados entre Facebook, Twitter e Instagram. No mundo virtual, ele adotou o que chama de “guardanapos poetizados”, em que aforismos são transcritos a mão no papel de textura que remete à dita sabedoria de bar. “A paixão emagrece, o casamento engorda, a separação envelhece, o amor-próprio rejuvenesce tudo de novo”, ensina uma das frases.
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As banalidades do dia a dia se tornaram sua matéria-prima, de brigas conjugais a conversas entre amigos. A escolha do guardanapo como meio de levar reflexões aos leitores nada tem a ver com a velha técnica do flerte — em que elogios são escritos no calor da bebedeira e enviados a um alvo com a ajudinha do garçom. Para Carpinejar, o guardanapo simboliza aquilo que é descartável, enquanto sua função de limpar pode muito bem ser aplicada à purificação dos pensamentos. “Eu me sinto um guardanapo”, analisa ele. De pérola em pérola, o ex-patinho feio está cada vez mais valorizado ao mostrar a importância da trivialidade da vida.
Publicado em VEJA de 14 de outubro de 2020, edição nº 2708
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