Em 2009, uma pérola do cinema documental brasileiro foi lançada: Flordelis: Basta uma Palavra para Mudar, filme que narra com cores dramáticas, elenco estrelado e toque de superioridade a história da cantora gospel Flordelis, que adotou mais de 50 crianças e adolescentes vulneráveis. A produção elogiosa será enterrada de vez pela chegada de dois livros-reportagens que prometem revelar a faceta nada agradável da ex-deputada federal do Rio de Janeiro — que ganhou as manchetes no ano passado ao ser presa acusada de mandar assassinar o marido, o pastor Anderson do Carmo, morto em 2019 pelo filho do casal Flávio dos Santos Rodrigues.
Nesta terça-feira, 23, a jornalista Vera Araújo lança, pela editora Intrínseca, o livro O Plano Flordelis. Mais a frente, em 2 de dezembro, chega às lojas a obra Flordelis – A Pastora do Diabo, que fecha a trilogia Mulheres Assassinas, de Ulisses Campbell. Para além da arquitetura do homicídio, que envolveu um falso latrocínio e trinta disparos, os livros devem se aprofundar na vida pra lá de peculiar da ex-deputada. O relatório do inquérito do caso aponta Flordelis como uma pessoa psicologicamente manipuladora, que instigava divisões de facção na família, tratava Anderson com desprezo e que formou uma rede entre os filhos prediletos para tramar o homicídio do pastor. O enredo de nuances quase surrealistas ainda envolve troca de casais entre os próprios membros da família, trapaças, roubo de dinheiro, envenenamento, falsificação de documentos e rituais sexuais.
Antes tida no universo gospel como uma mulher de conduta ilibada, Flordelis vislumbrou a fama pela primeira vez aos 15 anos, quando supostamente previu a morte do pai, atingido por uma carreta desgovernada após a inauguração de um templo evangélico em Guarulhos, cidade da vizinha a São Paulo. Na vida adulta, ganhou fama com a filantropia e a adoção de menores de idade, entre eles o próprio pastor Anderson do Carmo, então com 15 anos. Antes de se casar com Flordelis, Anderson se envolveu amorosamente com a filha biológica da pastora, Simone dos Santos Rodrigues, também presa acusada de participação no assassinato.