O governo estuda desde a última semana o destino da Cinemateca Brasileira e deverá anunciar uma decisão definitiva até o final desta semana. O possível resultado, no entanto, não é nem um pouco animador. A instituição deverá fechar as portas até o final de 2020, quando deixará de ser administrada pela Acerp (Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto) para voltar a abrir as portas, sabe-se lá quando, reestatizada.
Enquanto isso, Regina Duarte, que anunciou que deixaria seu cargo como Secretária Especial de Cultura para comandar a Cinemateca, a 4km de sua casa em São Paulo, não deverá assumir mais a função. Ela ainda não foi exonerada oficialmente e continua vagando figurativamente pela secretaria. Apesar do vídeo abraçando o presidente, no Palácio da Alvorada, dizendo que iria para a Cinemateca, o fato é que o destino da ex-atriz ainda não foi decidido pelo governo nem quem será seu substituto.
O diretor-geral da Acerp, Francisco Campera, e o superintendente da Cinemateca Brasileira, Roberto Barbeiro, estão desde a semana passada em Brasília participando de reuniões com o subsecretário de audiovisual, Heber Trigueiro, para decidirem o futuro da instituição que funciona como centro de pesquisa e eventos culturais, além de abrigar 200.000 títulos audiovisuais, que registram a história do país.
Um documento divulgado pela Acerp no dia 1° de junho revelou os detalhes de uma reunião ocorrida no dia 29 de maio. Nela, Trigueiro comunica verbalmente que a Cinemateca será fechada e que suas atividades serão absorvidas pela Secretaria de Cultura e o Ministério do Turismo. Não foram definidos, no entanto, como serão pagos os 11 milhões de reais que o governo deve a Acerp, relativa às despesas de 2020 e 2019.
Até o momento, há mais 150 pedidos de empresas, cineastas, estudiosos e emissoras de TV para usar o acervo da Cinemateca para pesquisas. Até a reestatização da instituição proposta pelo governo, estas demandas não serão atendidas, prejudicando toda uma cadeia do audiovisual do país e também internacionais.
Um dos problemas mais graves são os salários dos funcionários atrasados desde abril e uma provável demissão em massa, com colaboradores com mais de 40 anos de casa. Campera e Barbeiro deixaram a reunião sem respostas sobre como os funcionários serão pagos e como será feita a transição da Acerp para o governo.
Vale lembrar que além dos salários, também estão atrasadas as contas de luz da instituição e um eventual corte seria desastroso, pois é preciso manter a climatização das salas onde estão arquivados os tesouros de seu acervo histórico. Sem refrigeração, os filmes em acetato ficariam expostos e poderiam se deteriorar, já que este material estraga com variações de temperatura. Além do risco de incêndio.
Nesta quinta-feira, 4, às 11h, uma manifestação deverá ocorrer em frente a instituição, organizada pelo movimento SOS Cinemateca, onde será estendida uma faixa pedindo socorro, além da leitura de um manifesto assinado por entidades cinematográficas de todo o país. Por causa da pandemia, os manifestantes pretendem ficar no local por, no máximo, uma hora.