Gracinhas lucrativas: quem são os tiktokers mais ricos
Popularizado globalmente há apenas um ano, o aplicativo chinês de vídeos que Donald Trump quer banir já está formando seu time de milionários
Nada mau para uma coleção de vídeos rapidíssimos sobre todo tipo de bobagem: desde que caiu nas graças dos adolescentes ocidentais, em 2019, o aplicativo chinês TikTok já foi baixado mais de 2 bilhões vezes em todo o mundo e abriu as portas para o surgimento de uma geração de celebridades, com a esperada compensação financeira em patrocínios, lançamentos de marcas próprias e jogadas de marketing. O prêmio maior veio na forma de um ranking que acaba de ser divulgado no exterior, alinhando os tiktokers do mundo inteiro que arrecadaram mais de 1 milhão de dólares em um ano. Sete americanos se qualificaram para a lista, donos de um patrimônio total de 18 milhões de dólares — sendo que todos, menos um, são menores de 21 anos.
No alto do pódio dos tiktokers milionários está a dançarina Addison Rae, que atingiu seu primeiro milhão de seguidores em outubro de 2019, aos 19 anos, e hoje arrebanha na audiência de seus vídeos — em que aparece dançando, dublando músicas conhecidas e usando marcas bem visíveis — muitos milhões de pessoas. Para chegar à fortuna de 5 milhões de dólares, ela fechou contratos para promover peças da grife esportiva Reebok e da fabricante de relógios sueca Daniel Wellington. Estima-se que seu cachê, bem como o de outros personagens da elite do TikTok, alcance 200 000 dólares por post patrocinado. A jovem californiana tem ainda um podcast, uma marca de roupa e uma linha de maquiagem com seu nome, além de planos de estrelar um filme adolescente produzido pela Miramax em 2021.
Em seguida vêm duas irmãs, Charli, 16 anos, e Dixie D’Amelio, 20, com 4 milhões e 2,9 milhões de dólares, respectivamente. Dixie, inclusive, tem ambições que vão além do universo tiktoker: pretende ser cantora e garantiu mais visualizações em seu primeiro clipe do que os rappers Kanye West e Travis Scott, que lançaram um single no mesmo dia. Além das inevitáveis coleções de produtos de beleza e roupas, as duas apareceram em comerciais durante a final do futebol americano, o SuperBowl — o intervalo mais caro do mundo —, lançaram canal no YouTube e integraram o time de influencers presentes na Semana da Moda de Paris.
Todas as três já integraram, em algum momento, a comunidade de tiktokers que mora ou passa parte do tempo na Hype House, mansão em estilo espanhol bancada pelos, digamos, artistas mais bem-sucedidos e localizada em um condomínio fechado no topo de uma montanha em Los Angeles. A lista de negócios fechados pelas estrelas do aplicativo inclui Burger King, Oreo, Hyundai, Sony e até as brasileiras Magazine Luiza e Ambev, que encontraram nos tiktokers uma forma de promover seus produtos entre os jovens que comem e dormem na internet. O app tem hoje as melhores taxas de engajamento entre produtores de conteúdo e seguidores, e os vídeos publicados na plataforma tendem a atingir mais pessoas, em diferentes lugares do mundo, do que o Instagram e o Facebook. “Ganho mais com publicidade e lives no TikTok do que em qualquer outra rede que uso há muito mais tempo”, diz a influencer brasileira Camilla Martins, de 23 anos, que acumula 5,4 milhões de seguidores e cobra em média 5 000 reais por parceria.
Nascido para fazer dinheiro, o app possibilita a marcas e gravadoras de música pagarem para lançar hashtags, desafios e coreografias personalizadas, arrecadando ainda mais atenção. A máquina milionária não se restringe às grandes contas — qualquer usuário “normal” com boa frequência de uso pode ganhar uns trocados ao convidar novos amigos a criar contas próprias, ao assistir a mais minutos seguidos de vídeos e ao postar mais conteúdo, todas conquistas em forma de pontos que posteriormente podem ser transformados em depósitos em conta. Os tiktokers com mais de 1 000 seguidores, ao fazer uma live, têm permissão para receber “prêmios” em forma de dinheiro dos seguidores que o acompanham. “Dá para viver disso, e muito bem”, diz o catarinense Mário Jr., 21 anos, que estourou na rede social com vídeos que simulam diálogos românticos com garotas, ganhou o apelido de Galã e foi procurado por marcas como Casas Bahia e o site de relacionamentos Tinder. “O TikTok é minha principal fonte de renda”, conta Thatty Ferreira, de 23 anos, que publica de vídeos de maquiagem a dicas de edição de imagem na plataforma. Entende-se por aí por que, quando Donald Trump ameaçou banir dos Estados Unidos a ByteDance, empresa chinesa responsável pelo aplicativo, nomes como Microsoft, Oracle e Walmart tenham-se apresentado para comprar o TikTok americano. As negociações ainda prosseguem, assim como as dancinhas e gracinhas do aplicativo que continuam a divertir e a render.
Publicado em VEJA de 28 de outubro de 2020, edição nº 2710