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Graziela Gonçalves: “Ele era uma manteiguinha”

A viúva do cantor da banda Charlie Brown Jr — que morreu de overdose em 2013 — conta como foi a vida com ele, tema de seu livro recém-lançado

Por Patrícia Holando
Atualizado em 4 jun 2024, 17h00 - Publicado em 28 set 2018, 08h00

Como foi escrever sobre os últimos anos de Chorão? Foi praticamente uma terapia, um processo de catarse de que eu senti necessidade. Logo que aconteceu (a morte de Chorão), a minha vontade era fugir de tudo, era não falar, não me associar a nada. Depois percebi que eu estava fugindo de mim mesma, que eu tinha mais era de mergulhar naquilo, fazer as pazes e ressignificar as coisas. Acho que minha missão era deixar esse testemunho, essa história viva.

Chorão tinha um filho de um relacionamento anterior. A relação com ele é complicada? Não falo sobre isso.

E com a família dele? Com a mãe e o irmão dele é tranquilo. Não leram o livro antes do lançamento, mas sabiam que eu estava escrevendo.

Mas vocês já tiveram diferenças, não? No final, quando ele saiu de casa aproveitando que eu tinha ido ao dentista e veio para São Paulo para usar drogas livremente, eu estava muito solitária, porque não podia contar do problema para ninguém. Eu me afastei de todos. Para a família dele, naquele momento, fui a culpada do que aconteceu. Mas hoje está tudo bem.

O capítulo sobre esses dias finais é muito breve. Por quê? Foi exatamente como eu contei no livro. Ele estava assustado. Um viciado, quando está no ápice da drogadição, não quer outra coisa. Quando estava na crise, Chorão ligava, falava que ia voltar, que era para eu ter paciência. Ele me deixou um bilhete numa lousa, que eu não apaguei até hoje: “Meu amor, fique bem. Eu vou voltar”. Para mim, aquilo não era uma separação de fato. Era um momento que ia passar, e eu ainda ia conseguir resgatar o Chorão. Infelizmente, não aconteceu assim.

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O que você aprendeu com Chorão? Que a gente tem de amar as pessoas. Apesar de toda aquela persona agressiva de bad boy, ele era uma manteiguinha. Muito amoroso, preocupado com as pessoas, cuidava de quem estava ao redor, fosse familiar ou amigo. Ele ajudou muita gente. Não tinha medo de amar, de falar dos sentimentos dele. Eu sempre fui uma pessoa mais fechada e durona. Ele me ensinou a quebrar isso.

Publicado em VEJA de 3 de outubro de 2018, edição nº 2602

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