Diretor do sucesso Tropa de Elite, o carioca José Padilha fez uma bem-sucedida transição internacional. Aos 50 anos, une as duas facetas com O Mecanismo: a série é um produto global da Netflix, mas aborda um tema brasileiríssimo — a Operação Lava-Jato. Por telefone, de Miami, ele falou sobre corrupção e política
Por que o título O Mecanismo? Mais que falar sobre pessoas, eu queria tratar do esquema que a Lava Jato expôs: um processo criminal instaurado no Brasil há muito tempo, que se conecta com financiamentos de campanhas eleitorais das menores cidades ao governo federal. Campanhas são financiadas por empresas que prestam serviços ao estado — e essas empresas elegem políticos que depois indicarão operadores de sua confiança para cargos importantes nas estatais. Na construção de uma escola ou de uma refinaria, o preço é aumentado para favorecer empresas, políticos e intermediários. A corrupção não é um acidente na democracia brasileira. Ela é a lógica da democracia brasileira.
Não é arriscado tirar conclusões com a Lava Jato ainda em andamento? Pensei muito a respeito, e por isso decidi focar os primórdios da operação. Mostro o que significou a captura dos primeiros delatores, como o (ex-diretor da Petrobras) Paulo Roberto Costa. Isso é história. Mas há outra questão: em vez de olharem friamente os fatos, as pessoas tentam adaptá-los à sua ideologia. Eu procuro ser consciente da minha ignorância e ver a Lava Jato além das paixões políticas.
Na série, Dilma Rousseff vira Janete Ruscov e a Petrobras é chamada de Petrobrasil. Não é ridículo trocar nomes tão óbvios? Essa decisão teve a ver não só com o fato de que a gente dramatizou a história. A Netflix pediu para mudar, por questões jurídicas, e eu mudei. Agora, como brasileiro, não tenho interesse em personificar o mecanismo da corrupção. No mundo real, ele é habitado por pessoas que devem ser punidas. Mas independe delas: com gente do PT, MDB ou PSDB, o mecanismo sobrevive.
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