Quando a saga Crepúsculo chegou aos cinemas, em 2008, Robert Pattinson e Kristen Stewart arrebanharam uma legião de fãs, mas o prestígio profissional do então casal juvenil desceu a ladeira rumo ao ostracismo. Com personagens apáticos e diálogos que soavam cômicos de tão piegas, os dois foram massacrados pela crítica especializada, e o futuro em Hollywood não parecia promissor. Mais de dez anos depois e contra todas as expectativas, porém, Robert e Kristen exorcizaram os demônios – ou melhor, vampiros – do passado e hoje integram o hall dos atores mais badalados de Hollywood. Ela recebeu aclamação absoluta por sua versão da princesa Diana em Spencer, enquanto ele, às vésperas de estrear Batman, foi cotado essa semana como estrela do próximo filme de Bong Joon Ho, o oscarizado diretor de Parasita.
Prisioneiros de adolescentes histéricos chorando por um autógrafo ou selfie com eles, e tratados com o mais gélido desdém pelo público “cult” que odiava a saga Crepúsculo, os dois empreenderam quase uma jornada do herói ao longo da carreira. Descredibilizados pela bizarrice vampiresca que os alçou à fama, eles penaram para serem levados a sério. Kristen, sem dúvida, foi quem mais sofreu com a imagem negativa. Isso porque a sem sal Bella Swan rendeu-lhe o rótulo mais abominável no ramo: o de uma atriz “sem expressão”. No raiar das redes sociais, ela virou meme por esboçar a mesma reação em todas as cenas, independente do sentimento que deveria ser transmitido ali. Bella, no entanto, mesmo nos livros não é das mais expressivas, e suspeito que nem Meryl Streep salvaria uma personagem cujo único rastro de personalidade é querer virar uma sugadora de sangue imortal por um homem que acabou de conhecer – e que disse que poderia matá-la.
Na pele da adorada e sempre complexa princesa Diana, no entanto, Kristen brilhou. O desempenho em Spencer tem sido tão elogiado que ela figura na maioria das listas de apostas de indicados ao Oscar, fazendo morder a língua de quem afirmou que as câmeras não seriam para ela. Antes disso, aliás, a atriz já vinha em uma ascensão tímida em produções recentes, especialmente aquelas dirigidas pelo francês Olivier Assayas, como Acima das Nuvens (2014) e Personal Shopper (2016), que renderam críticas positivas inimagináveis nos tempos de Crepúsculo.
Paralelo a isso, Pattinson também avançava no cinema independente. O ator, que antes da saga era amado pelos jovens por dar vida a Cedrico Diggory em Harry Potter – um sucesso juvenil mais cultuado que Crepúsculo – caiu na malha fina dos fiascos cinematográficos ao aparecer brilhando como Edward Cullen. Sincerão, ele reconhece que Edward o alçou à fama, mas não economiza nas piadas ácidas sobre a produção – já chegou a dizer, em tom de brincadeira, que perdeu a dignidade no set. “Ser famoso por uma coisa assim traz um salário melhor, mas também é o que praticamente todos os atores do mundo não querem”, proclamou em 2011. Pattinson, no entanto, deu a volta por cima. No terror O Farol, de Robert Eggers, contracena com ninguém menos do que Willem Dafoe e entrega uma das melhores performances da carreira. O ator também brilhou em Tenet, último filme de Christopher Nolan, e foi escalado para o cobiçado papel do novo Batman. Embora as reações iniciais tenham sido divididas, os trailers de Pattinson na pele do homem-morcego colocaram as expectativas em relação ao longa lá em cima. Estrelar um filme de Bong Joon Ho seria a consagração definitiva.
Se um viajante do tempo de 2010 fizesse uma parada em 2022, certamente se surpreenderia ao ver os nomes de Kristen Stewart e Robert Pattinson na boca do povo de uma maneira positiva. Este ano será decisivo para que os dois exorcizem de vez o passado questionável para alçar voos mais profundos no cinema. Ao que parece, eles agarraram a oportunidade com a mesma força sobrenatural dos personagens do boboca Crepúsculo. Agora, é esperar para ver o que vem pela frente.