Após a criação de seu clube do livro, você está lançando uma nova iniciativa na área ao lado do historiador Leandro Karnal, pela editora Planeta. Como descobriu o poder da leitura? Perdi meu pai em um acidente de carro aos 6 anos. Percebi meu contato com os livros na adolescência, ao encontrar os clássicos dele espalhados pela casa, como Elogio da Loucura, de Erasmo de Roterdã, e O Príncipe, de Maquiavel. Li todos no intuito de conhecer um pouco mais sobre meu pai. Ainda tenho a maioria, mas guardo um em especial: o Germinal, do Émile Zola. Num sonho, meu pai dizia que todas as respostas às minhas dúvidas estavam nesse livro.
Qual é o seu critério na hora de recomendar uma obra? Um livro bem escrito e alicerçado em boa pesquisa é o que recomendo a meus seguidores. Sou muito transparente nas indicações. Se digo que li e gostei, é porque de fato já percorri aquelas páginas. Quando me empenho na leitura, descubro um mundo de identificação e autoconhecimento, e não me sinto mais insegura ou solitária. Ler nos faz mais conscientes.
No Instagram, você fala de política usando salto alto e roupas de grife, além de fazer propaganda de produtos de beleza. Como se equilibra entre a temática séria e a futilidade das redes? Falo com orgulho que sou influenciadora, youtuber, advogada, professora e apresentadora. Gosto de acumular possibilidades, sou uma mulher múltipla. No começo, diziam que eu não podia falar sobre assuntos sérios usando sapatos cor-de-rosa, batom vermelho e acessórios grandes. Hoje, vejo advogadas e professoras postando a foto do look do dia sem se importar se serão criticadas. A roupa, os brincos, a maquiagem que a gente usa não dizem nada sobre quão competentes e quão profissionais nós somos.
Sua postura mais à esquerda a tornou alvo dos fãs do presidente Jair Bolsonaro. Como lida com os haters? Eu recebo críticas da esquerda também. As pessoas me chamam de parcial e isenta ao mesmo tempo, olha como o mundo é contraditório. É que tem muita gente na ala contra o Bolsonaro hoje, né?! Ele conseguiu unir tantas opiniões diferentes no país. Gosto que as pessoas sigam uma ideologia, não um nome ou rótulo. E encaro críticas com naturalidade. Não concordo com todos, e é normal que nem todos concordem comigo. Precisamos fortalecer o debate democrático, pois a polarização inviabiliza o diálogo.
Um de seus posts recentes traz um tutorial para filtrar comentários negativos. Faz muito uso dessa ferramenta? Não tolero ofensas em minhas redes sociais. Se me ofendem ou me xingam, há o filtro. Se por acaso um comentário escapa, tenho uma equipe que o barra e bloqueia a pessoa. Ou seja: as ofensas não chegam até mim. Só leio afeto, mas lido com absoluta tranquilidade com pensamentos contrários aos meus. Democracia é isso.
Publicado em VEJA de 28 de abril de 2021, edição nº 2735