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Livro recupera a admirável arquitetura paulista dos anos 50 e 60

‘São Paulo nas Alturas’, de Raul Juste Lores, examina os residenciais Louvre e Parque das Hortênsias, o Edifício Itália, o Conjunto Nacional e o Copan

Por Da Redação 21 ago 2017, 15h06
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  • Em 1950, a arquitetura da capital de São Paulo apresentava um nível tão alto que fazia parecer que a cidade se tornaria uma Nova York dos trópicos. Erguiam-se prédios bem pensados, com ofertas a todos os perfis e bolsos e projetos em que a rua era um elemento importante — o que justificava até a inexistência de muros. O espírito cosmopolita, impulsionado pelas levas de imigrantes fugidos da II Guerra, estava na vida que acontecia nas calçadas, mas também da porta para dentro. Aos poucos, a elite econômica trocava antigos casarões por modernos apartamentos. Mas algo deu errado no meio do caminho. A expansão urbana das últimas décadas se traduziu em bairros malfeitos, onde muitas vezes só o carro tem vez, e em uma monótona linha de montagem de espigões de baixa qualidade, nos quais se paga caro para morar mal. Não raro, são prédios que dão as costas à cidade atrás de muralhas quase medievais. “O mercado imobiliário paulistano era o Vale do Silício dos anos 50, com empreendedores e compradores inovadores e rebeldes. Hoje, é das indústrias menos inovadoras que existem, olhando sempre pelo retrovisor”, diz o jornalista Raul Juste Lores, autor de São Paulo nas Alturas. É da época examinada no livro — os anos 50 e também os 60 — boa parte do melhor patrimônio arquitetônico paulistano, como os residenciais Louvre, Parque das Hortênsias e Paquita, o Edifício Itália, o Conjunto Nacional e o Copan.

    Espírito Cosmopolita – O Edifício Itália (à esq.), do alemão Franz Heep, o Copan, de Oscar Niemeyer (ao centro), e o Louvre (à dir.), do arquiteto e construtor João Artacho Jurado, marcos urbanísticos de São Paulo: nos anos 50, o mercado imobiliário era, segundo Juste Lores, tão vibrante e criativo quanto é hoje o Vale do Silício
    Espírito Cosmopolita – O Edifício Itália (à esq.), do alemão Franz Heep, o Copan, de Oscar Niemeyer (ao centro), e o Louvre (à dir.), do arquiteto e construtor João Artacho Jurado, marcos urbanísticos de São Paulo: nos anos 50, o mercado imobiliário era, segundo Juste Lores, tão vibrante e criativo quanto é hoje o Vale do Silício (Vitor Marigo, J.F. Diorio/AE e Gabriel Cabral/Folhapress)

    Foi observando a noite de Buenos Aires, no início dos anos 2000, quando era correspondente de VEJA na Argentina, que Lores, hoje na Folha de S.Paulo, entendeu o tamanho do problema paulistano. Às 10 da noite, via mães empurrar carrinhos de bebê pela Plaza Vicente López, seguindo o movimento de uma classe média que saía a pé para passear e encontrar amigos. As razões de São Paulo não ter se tornado uma Buenos Aires e muito menos uma Nova York são detalhadas no livro. Lores resgata a importância de arquitetos esquecidos até por seus pares, como o casal Ermanno Siffredi e Maria Bardelli, autores da Galeria do Rock e do Hilton Hotel. Assim como eles, dezenas de arquitetos deixaram a Europa devastada pela guerra e desembarcaram quase sem documentos no Brasil, levando anos para conseguir registro profissional. Ao desvelar os verdadeiros autores de projetos assinados por nomes “emprestados”, o livro, além de render-lhes uma justa homenagem, atesta quanto a cidade é uma criação coletiva.

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