Mariah Carey se reinventa como diva natalina
Com carreira de altos e baixos, cantora ganha novo impulso no streaming e nas redes ao abraçar seus excessos sem medo de ser feliz
Se há um consenso sobre 2020 é o seguinte: que ano tenebroso. O clima de exaustão que afetou por antecipação a alegria das festas de fim de ano é usado com ironia no especial O Natal Mágico de Mariah Carey, musical da plataforma de streaming Apple TV+. Ao perceber o índice negativo de felicidade no ar, o gerente do Natal — braço direito do Papai Noel — aperta um botão de emergência que faz surgir um celular cravejado de cristais vermelhos. Do outro lado atende Mariah Carey. Com maquiagem impecável e cabelos esvoaçantes, a cantora recebe uma singela missão: salvar o Natal. Dali em diante, ela esbanja seus atributos, dos incontornáveis agudos a um visual kitsch dos pés à cabeça, com muito glitter e laquê. “O especial é um refresco em um ano tão difícil”, disse a VEJA (leia entrevista).
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Na cola de nomes como Barbra Streisand e Cher, mulheres tão famosas pela voz quanto pela personalidade coruscante, a cantora de 50 anos (idade que Mariah prefere não comentar) trilhou uma carreira de extremos. Quando estava no auge, entoando baladas românticas nos anos 90 e lançando discos que vendiam como purpurina no Carnaval, parecia inalcançável. Desabou ao fundo do poço, contudo, depois do fracassado (e risível) filme Glitter (2001), quando tabloides de fofoca se esbaldavam com sua fama de “diva difícil”. O retorno ao topo se mostrava improvável. Mas eis que uma surpresa a resgatou das cinzas. Em dezembro de 2019, All I Want for Christmas Is You, balada natalina de 1994, foi impulsionada pela nostalgia das redes e pelo streaming, subindo ao topo das paradas 25 anos após o lançamento. Mariah se tornou, então, a primeira artista-solo a somar dezenove primeiros lugares na parada da Billboard — no ranking geral, perde só para os Beatles, com vinte. A sagração como musa natalina se dá no novo especial da Apple, em que ela recebe estrelas como a atriz Bette Midler e o rapper Snoop Dogg em uma produção na qual é duro distinguir o que é real do que é, vamos dizer assim, burilado com Photoshop. Mariah teria embolsado 10 milhões de dólares pelo show.
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No ano em que a pandemia parou o entretenimento, Mariah fez não só o especial. Ela lançou a autobiografia The Meaning of Mariah Carey, em que relata a relação familiar belicosa na juventude e o relacionamento abusivo com Tommy Mottola, ex-CEO da Sony Music, que a mantinha quase em cárcere privado. A segunda tacada foi o disco The Rarities, com gravações do baú, um show ao vivo e letras que ganharam novo significado com as revelações do livro. Filha de um casal birracial — sua mãe era branca e o pai, negro —, Mariah hoje denuncia que a indústria musical tentou “apagar” sua negritude nos anos 90. Mais tarde, na virada do milênio, ela seria pioneira em misturar pop açucarado com rap e hip-hop. De lá para cá, a cantora viveu momentos de baixa. Alguns fatores explicam a reinvenção atual. Além do apelo junto ao público gay, Mariah abraçou o humor autodepreciativo e ganhou espaço entre adolescentes no TikTok, onde publica vídeos engraçadinhos com os filhos, Moroccan e Monroe, gêmeos de 9 anos. Goste-se ou não, ho-ho-ho, lá vem Mariah, o furacão.
Publicado em VEJA de 16 de dezembro de 2020, edição nº 2717
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