Mauro Sousa: ‘Sinto falta de um personagem gay na Turma da Mônica’
Aos 34 anos e gay assumido, filho de Mauricio de Sousa alfineta a polêmica em torno do Superman bissexual
Seu pai afirmou recentemente que está preparando um personagem gay para a Turma da Mônica inspirado em você. O que acha da iniciativa? É uma ideia linda e um gesto de amor e carinho do meu pai. A diversidade sempre esteve presente na Mauricio de Sousa Produções. São mais de 400 personagens de várias idades, etnias, enfim, cada um do seu jeitinho. Não será diferente agora, mas, com certeza, sinto que falta um personagem gay.
O jogador de vôlei Mauricio Souza foi acusado de homofobia ao criticar a versão bissexual do Superman nos quadrinhos. Como responde a esse comentário? Homofobia não é opinião. Preconceito não é liberdade de expressão e nem pode ser naturalizado. Homofobia é crime e cabe, sim, aos órgãos competentes tomar alguma medida diante do homofóbico. E quem fez os comentários preconceituosos deve pagar pelos seus atos.
Várias gerações no Brasil cresceram lendo os quadrinhos da Turma da Mônica. Sendo um homem gay, quais referências teve na literatura? Cresci na década de 90 e as referências aos gays eram muito estereotipadas ou ridicularizadas, e nem um pouco educativas. Tomei consciência que era gay lá pelos 10 anos. Eu tive uma infância solitária, pois não conversava com ninguém sobre isso.
Há uma falsa ideia de que personagens gays em histórias infantis poderiam influenciar a orientação sexual de crianças. O que diz para quem acredita nisso? É simples: a sexualidade não é influenciável, nem dá para se converter. Eu não virei gay. Eu nasci gay. Argumentos como esses não têm fundamento algum. Uma referência bem-feita e bem pensada sobre sexualidade e suas ramificações teria feito com que eu fosse uma criança mais feliz e tranquila.
Qual foi a reação dos seus pais quando revelou a eles sua orientação sexual? Eu tinha 18 anos e estava muito triste porque tinha discutido com meu namorado da época — que eu escondia da minha família. Minha mãe percebeu, sentou ao meu lado e disse: “Mauro, eu sei que você é gay e te amo do seu jeito. Sempre vou te amar e quero conhecer seu namorado”. Foi o dia mais feliz da minha vida e eu me emociono até hoje ao me lembrar. Esse acolhimento não é comum. Foi minha mãe quem contou para o meu pai e a reação dele foi natural. Ele tem um coração enorme e ama os dez filhos, cada um dono de uma característica diferente.
Publicado em VEJA de 17 de novembro de 2021, edição nº 2764