Mickey Rourke faz nova plástica no nariz — e posta no Instagram
O ator, que teve de reconstruir o nariz seis vezes por causa do boxe, voltou à mesa de operação
Talento raro no cinema, o americano Mickey Rourke poderia ser um dos maiores nomes de Hollywood, não fosse a investida no boxe profissional e nas intervenções estéticas que deformaram seu rosto. O ator, que teve de reconstruir o nariz seis vezes por causa do boxe, voltou à mesa de operação para uma nova cirurgia plástica — divulgada por ele mesmo no Instagram.
“Momentos após a cirurgia de nariz com Dr. Dhir. Agora, estou ‘bonito de novo’ (risos), escreveu Rourke ao lado da foto em que aparece com o cirurgião responsável pelo novo nariz.
Como já disse a crítica Isabela Boscov, o estrago que Mickey Rourke infligiu sobre si mesmo é incancelável. O efeito mais visível da derrocada está, claro, estampado no seu rosto, uma versão massacrada da beleza que, para sua repugnância – mas com sua colaboração –, fez dele um símbolo sexual em meados da década de 1980, em filmes como 9 Semanas de Amor. Em retrospecto, esse foi o início do fim: o ponto em que o narcisismo de Rourke, alimentado pelo assombro que seu trabalho despertava, colidiu com o desprezo que ele começava a sentir por um dom que lhe vinha de maneira tão fácil.
Rourke foi também um garoto pobre, abandonado pelo pai aos 6 anos e transferido de Nova York para Miami para viver com um padrasto violento. Para se impor, aprendeu a ser valentão e arrogante; e, quando vieram o sucesso e o dinheiro, achou que eles eram uma recompensa natural que nunca lhe faltaria, porque ninguém jamais poderia ser melhor do que ele. “Eu achava que o talento era a única coisa que importava. Faltava-me até instrução para entender que o trabalho tem uma esfera política, com a qual é preciso conviver”, diz.
Em 1991, no que parecia ser uma de suas bravatas típicas, Rourke largou uma carreira que então já ia muito mal, por conta de suas escolhas desleixadas, para se arriscar como boxeador profissional. Na adolescência, afirma, ele fora um peso-galo promissor, afastado por uma lesão. O boxe, assim, era um negócio mal-resolvido, e Rourke, que tem tendência a cismar com pontas desatadas, foi resolvê-lo. Até 1995, participou de várias lutas e ganhou quase todas, o que poderia indicar um desempenho admirável. Exceto pela violência com que ele apanhou para obtê-lo. Rourke teve de reconstruir o nariz seis vezes, quebrou vários outros ossos da face, além da mão e de algumas costelas, perdeu parte da audição e sofreu concussões que o levaram a amnésias temporárias, a uma redução permanente do senso de equilíbrio e ao diagnóstico de que danos cerebrais seriam iminentes.
Rourke deixou então novamente o ringue. Mas, dessa vez, sua carreira como intérprete era uma possibilidade morta e enterrada. Entre meados dos anos 80 e o fim de sua aventura no boxe, Rourke tratara de fazer inimigos entre os estúdios, produtores e diretores com meticulosidade notável – e o fizera não por meio de sutilezas, mas com todas as impublicáveis letras. Reunira em torno de si um bando de bajuladores e brutamontes recrutados entre os Hell’s Angels e gangues cubanas. Com extravagâncias e explosões, cimentara a reputação de um ator em que só se podia confiar pela inconfiabilidade. Juntou ainda a essa imagem a fama de marido violento, que Rourke nega veementemente: segundo ele, sua ex-mulher, a modelo e atriz Carré Otis, o acusou de espancá-la porque estava tão doida pela heroína que não se lembrava realmente de quem havia batido nela (de acordo com Rourke, foram os sujeitos que ele cuidou depois de mandar para o hospital a socos e pontapés). E havia ainda seu rosto – uma ruína forjada pelos golpes sofridos no ringue e por cirurgias plásticas em que, à reconstrução, iam se juntando implantes inexplicáveis.