Com Army of the Dead: Invasão em Las Vegas, você retorna ao tema do apocalipse zumbi, que o fez famoso em 2004 com Madrugada dos Mortos. Por que esse monstro da ficção continua em alta? Os zumbis são populares, pois, no fundo, eles são os monstros que existem em nós. É assustador olhar para si mesmo e pensar: “Como eu seria se estivesse despido da minha humanidade?”.
Seus filmes são produções grandiosas, feitas para o cinema. Agora, vai lançar um longa com a Netflix que poderá ser visto pelo celular. Isso o incomoda? Penso que muitas pessoas nem vão ao cinema e assistem a meus filmes no celular ou no computador. Por mim, tanto faz. Eu não abriria mão da chance de ser visto pelos 200 milhões de assinantes da Netflix.
Antes de entrar no filão de super-heróis, em 2013, você já fazia filmes com humanos poderosos, como os guerreiros de 300. Por que esse tipo o atrai? Assim como os zumbis mostram nosso pior lado, a força e o desejo de fazer o bem são inerentes ao ser humano. Gosto de explorar as falhas desses personagens ditos inabaláveis.
Filmes de super-heróis são rechaçados por infantilizar o público. Concorda? Eu entendo essa crítica e, em alguns casos, acho plausível. Mas também defendo a ideia de que é um filão que fala sobre moral, ética e os abusos do poder. Eu me esforço ao máximo para que meus filmes mostrem as consequências das ações desses deuses na Terra. Eles precisam aprender a viver pelas regras daqui. Quando adaptei Watchmen, muitos criticaram, pois não exaltei aqueles heróis, eu preferi desconstruí-los.
Mesmo sendo um diretor bem-sucedido, você lida com críticas negativas. Como encara esses dois lados do trabalho? Tenho de aceitar o lado bom e o ruim. Nunca tive a intenção de ser um diretor popular. Eu adaptava quadrinhos quando não era moda. Faço meus filmes para autoapreciação. Não tento agradar a todo custo aos fãs de cultura pop. Prefiro desconstruir personagens extremamente populares e observar suas peculiaridades. Quando me perguntam: “Batman vs Superman desagradou a muita gente. Se pudesse mudar o filme, o que mudaria?”. Eu respondo: “Nada!”. Eu não só não me importo com as críticas, como não saberia fazer meus filmes de outro modo.
Como assim? Não quero ser o cineasta rude que se acha incompreendido. Mas tenho a sensação de que muitos não entendem meus filmes. Não aceito quando dizem que são blockbusters de ação desmiolados. Como se eu não me importasse com a história, só com o entretenimento. Entreter é minha última motivação. Gosto de explorar as camadas da sociedade e dos personagens. É isso que faz meus heróis mais melancólicos que a média — e essa crítica eu aceito.
Publicado em VEJA de 12 de maio de 2021, edição nº 2737