Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

Novo filme de Wes Anderson faz saborosa homenagem ao ofício jornalístico

Histórias absurdas e personagens curiosos se cruzam em 'A Crônica Francesa'

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 13h19 - Publicado em 19 nov 2021, 06h00

O escritor americano Mark Twain (1835-1910) afirmou certa vez que a “realidade é mais estranha que a ficção”. Isso porque a ficção, para ser crível, deve fazer sentido — regra que a vida real não faz questão de seguir. Em A Crônica Francesa (The French Dispatch/Estados Unidos, Alemanha/2021), já em cartaz no Brasil, a estranheza da realidade casa em regime de comunhão de bens com o mundo exuberante criado pela mente de Wes Anderson. Dono de um apreço particular, quase infantil, pelo absurdo, o diretor americano encontrou para seu novo filme uma fonte saborosa de matéria-prima no jornalismo literário — filão no qual histórias reais são narradas de forma detalhada e longa, com cores de aventura, romance e comédia, entre outros gêneros pouco usuais na dinâmica prática e veloz de uma redação jornalística.

The Wes Anderson Collection: The Grand Budapest Hotel

Inspirado diretamente na renomada revista americana The New Yorker, o fictício A Crônica Francesa é um periódico mensal produzido por profissionais dos Estados Unidos que vivem na inventada cidade de Ennui-sur-­Blasé, na França. Criada por Arthur Howitzer, Jr. (Bill Murray), a revista circula entre 1925 e 1975. Seu fim é decretado junto com a morte de Howitzer: o editor exige em testamento que seu obituário seja também o texto de despedida da publicação. Ao lado do corpo do chefe (literalmente), os colegas de trabalho tecem juntos suas memórias. A ação é intercalada por três grandes reportagens, que vão da política à culinária, filmadas com a agilidade típica do diretor. Nas mãos de Anderson, as câmeras estão em constante movimento, assim como os cenários, em um jogo teatral. Inventivo, o diretor chega a trocar dois atores em cena, diante do espectador, um mais jovem (Tony Revolori) e outro mais velho (Benicio Del Toro), para marcar a passagem de onze anos na história.

IMPROVÁVEL - Del Toro: um talentoso artista que também é um assassino frio -
IMPROVÁVEL - Del Toro: um talentoso artista que também é um assassino frio – (Twentieth Century fox film/.)

The Wes Anderson Collection: Isle of Dogs

Leitor fiel da The New Yorker desde o ensino médio, Anderson faz aqui uma escolha curiosa. Em vez de adaptar as tramas publicadas pela revista, um caminho óbvio para uma homenagem, o diretor privilegia os jornalistas. Enquanto as histórias são fruto de sua imaginação, a maior parte dos personagens é inspirada em profissionais ilustres que passaram pela publicação, do dramaturgo Tennessee Williams (1911-1983) e o ativista James Baldwin (1924-1987) até a crítica de arte Rosamond Bernier (1916-2016) — personagem que por si só merecia um filme: foi aluna de Frida Kahlo, amiga de Picasso e Matisse e ativa na divulgação da arte europeia no pós-Guerra.

Continua após a publicidade
REVOLUÇÃO - Timothée e Lyna: estudantes idealistas em cenário móvel -
REVOLUÇÃO - Timothée e Lyna: estudantes idealistas em cenário móvel – (Twentieth Century fox film/.)

Quadro Wes Anderson

Rosamond é vivida com brilho por Tilda Swinton, que, no longa, traça um perfil sobre um pintor assassino e talentosíssimo (Del Toro), descoberto na prisão por um marchand detido por sonegação fiscal (Adrien Brody). A trama cômica é seguida por uma de tom político, quando uma repórter veterana (Frances McDormand) se envolve mais do que deveria com um movimento estudantil liderado por dois jovens idealistas e ingênuos (Timothée Chalamet e Lyna Khoudri). A última reportagem se revela uma espécie de thriller, quando o crítico culinário (Jeffrey Wright) acaba inadvertidamente envolto numa ação policial com gângsteres, prostitutas e o sequestro de uma criança. Distintas entre si, as tramas são tão representativas da grife Wes Anderson quanto a presença de estrelas em um elenco abarrotado de gente, e as cenas, obsessivamente simétricas. Para ele, o mundo é um campo minado de dificuldades e dores, no qual realidade e ficção se misturam de uma forma peculiar e poética.

Publicado em VEJA de 24 de novembro de 2021, edição nº 2765

Continua após a publicidade

CLIQUE NAS IMAGENS ABAIXO PARA COMPRAR

Novo filme de Wes Anderson faz saborosa homenagem ao ofício jornalísticoNovo filme de Wes Anderson faz saborosa homenagem ao ofício jornalístico
The Wes Anderson Collection: The Grand Budapest Hotel
Novo filme de Wes Anderson faz saborosa homenagem ao ofício jornalísticoNovo filme de Wes Anderson faz saborosa homenagem ao ofício jornalístico
Continua após a publicidade

The Wes Anderson Collection: Isle of Dogs

Novo filme de Wes Anderson faz saborosa homenagem ao ofício jornalísticoNovo filme de Wes Anderson faz saborosa homenagem ao ofício jornalístico
Quadro Wes Anderson
logo-veja-amazon-loja
Continua após a publicidade

*A Editora Abril tem uma parceria com a Amazon, em que recebe uma porcentagem das vendas feitas por meio de seus sites. Isso não altera, de forma alguma, a avaliação realizada pela VEJA sobre os produtos ou serviços em questão, os quais os preços e estoque referem-se ao momento da publicação deste conteúdo.

Publicidade

Imagem do bloco

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.