O amor melancólico de Sang-soo encanta Festival de Berlim
Cineasta sul-coreano, comparado a Woody Allen, foca em romance descontruído em novo filme
O sul-coreano Hong Sang-soo é frequentemente comparado ao americano Woody Allen e ao francês Eric Rohmer e conhecido por filmar muito, às vezes lançando dois longas num ano. Muitas de suas obras têm um tom leve, casual, como A Visitante Francesa, estrelada por Isabelle Huppert. Mas não é o caso de Bamui Haebyun-eoseo Honja (ou On the Beach at Night Alone, título inglês que pode ser traduzido como “na praia à noite sozinha”), exibido para jornalistas na manhã desta quinta-feira (16) na competição do 67º Festival de Berlim. A tristeza está impregnada no filme.
Como é comum em seus trabalhos, existe aqui um fiapo de história. A protagonista é a atriz Younghee (Kim Minhee, de A Criada, ótima). Na primeira parte, numa cidade sem nome no que se supõe ser a Alemanha, ela encontra uma amiga mais velha, Jeeyoung (Seo Younghwa). Juntas, visitam mercados e andam pelo parque, no inverno. Falam de amor. Younghee espera a visita do amante, um diretor de cinema casado. Jeeyoung diz: “Não acho que ele vai vir”. A atriz se auto-define como “mulher difícil” por causa de sua honestidade. As duas vão almoçar com um casal e todos vão à praia depois. Na segunda parte, Younghee está de volta à Coreia, visitando amigos. Ela tem encontros meio atrapalhados com dois deles, e depois todos se reúnem em volta da mesa com muita comida e, principalmente, bebida. A atriz fica ainda mais direta, falando verdades na cara de todos.
Hong Sang-soo usa alguns elementos comuns de seus filmes anteriores, como um personagem cineasta e cenas ao redor da mesa, com bebedeira. Como sempre, a discussão aqui é sobre o amor e seu efeito nas pessoas. Younghee vai para a Europa para se afastar do escândalo provocado por seu caso com o diretor. Mas raramente Sang-soo colocou na tela uma personagem feminina tão intrigante. Bela e destemida ao falar o que pensa, chega a ser desagradável. O filme também mistura o registro naturalista, com diálogos que não parecem ter sido escritos, com alguns mistérios, como o encerramento da primeira parte e uma conversa com um velho amigo em que Younghee não se lembra de várias coisas, cenas que podem mudar toda a percepção do que foi visto. A disputa pelo Urso de Ouro não tem uma seleção forte este ano, mas, sem dúvida, Bamui Haebyun-eoseo Honja está entre os melhores.