Na série Entourage, que satirizava a vacuidade de Hollywood, a carreira do protagonista mudava da água para o vinho (ou vice-versa) quando ele era escalado para viver Aquaman — e a piada estava no fato de um filme do super-herói marinho ser um sucesso. Até na terceira divisão dos quadrinhos o príncipe de Atlântida corre lá no fim do páreo. Mas, no que parece ser uma contravenção à lei das probabilidades, Aquaman (Estados Unidos, 2018), já em cartaz no país, muda o placar das produções da DC Comics. Agora, junto com Mulher-Maravilha, o universo da DC soma dois acertos. Mas acertos nos termos do que se viu até aqui, o que significa que ainda há problemas por vencer. O maior deles é a herança de Zack Snyder, o diretor que marcou o “DCverso” com seu estilo pomposo e exageradamente calcado em efeitos digitais.
Em Mulher-Maravilha, a diretora Patty Jenkins conseguiu driblar a maior parte desse legado. Em Aquaman, James Wan, o talento dos dois Invocação do Mal, tem uma taxa de sucesso mais modesta, condicionada pelo orçamento alto e pelas enormes e intrincadas (além de muito bonitas) paisagens submarinas: a computação gráfica necessária à criação delas acaba “vazando” para o restante da ação e não raro a prejudica — especialmente quando fica claro que são bonecos binários, e não os atores, que estão fazendo os stunts. Há também um excesso de vilões entulhando estes oceanos. Aquaman acerta, porém, na escolha de Jason Momoa, o Khal Drogo de Game of Thrones, para o papel e na de Nicole Kidman para viver sua mãe, a rainha Atlanna: se Nicole tem algo de naturalmente aristocrático, Momoa tem um quê de naturalmente ameaçador que serve como antídoto natural às piadas que por tanto tempo vitimaram o personagem.
Publicado em VEJA de 19 de dezembro de 2018, edição nº 2613