Dizem que nunca conseguiremos ver filmes de super-heróis da mesma forma depois de assistir à série. Você concorda? Por mais que eu desgoste do gênero, que bloqueia quase totalmente outros tipos de quadrinhos e tem domínio crescente sobre o cinema, não há como negar a popularidade dos super-heróis. As pessoas podem se divertir imaginando como eles realmente seriam e ainda desfrutar as aventuras com as quais estão acostumadas — não há contradição nisso. O original e a paródia podem ser apreciados de mãos dadas.
Até que ponto o tom anti-herói do gibi colaborou para que ele fosse cancelado pela DC Comics? Foi exatamente isso que causou o dano. Havia tolerância para críticas à religião ou política, mas, no caso de The Boys, era como se eu estivesse enfiando uma faca no principal produto da companhia. Nunca descobri se a gota d’água foi uma cena específica, mas creio que o tom anti-herói da revista acabou sendo demais para a DC.
Como foi a transição para a nova editora? Teve alguma dificuldade em garantir os direitos de sua obra? Na verdade, foi uma ótima experiência. A DC, de forma muito correta, nos devolveu o pacote completo e a papelada foi concluída em tempo recorde. Recebemos ofertas de muitas editoras e, finalmente, decidimos pela Dynamite, onde tivemos 100% de liberdade de criação.
Você gosta de ter controle sobre sua criação, como J.K. Rowling tem em relação a Harry Potter? Muito pelo contrário. Na televisão, o conteúdo precisa ser gerado tão rápido, e tantas pessoas diferentes têm voz no resultado, que para mim o curso de ação mais sensato é tratar separadamente os quadrinhos do programa.
Qual é a sua opinião sobre o sucesso de The Boys no serviço de streaming? Espero que dure vinte temporadas e ajude a vender milhões de exemplares da revista em quadrinhos.
Publicado em VEJA de 4 de novembro de 2020, edição nº 2711