Todo mundo quer habitar o mundo de Wes Anderson – mesmo que ele seja uma ilha de lixo, cheia de vira-latas doentes. Na animação em stop motion Ilha dos Cachorros, que estreia agora no país, o diretor americano reúne colaboradores antigos, como os roteiristas Jason Schwartzman e Roman Coppola e os atores Bill Murray, Bob Balaban, Jeff Golblum e Edward Norton, e dá boas vindas a novos membros da família, como Bryan Cranston e Liev Schreiber, para contar a história de um grupo de cachorros exilados por um prefeito japonês adorador de gatos.
Chief (Cranston), Rex (Norton), King (Balaban), Boxx (Murray) e Duke (Goldblum) são cães alfa, mas atuam como uma família democrática onde todos têm voto e voz. “Tudo sempre começa com Wes descrevendo um clima, um sentimento”, disse Coppola, filho do cineasta Francis Ford Coppola, em entrevista a VEJA durante o Festival de Berlim, onde Anderson ganhou o Urso de Prata de direção pelo filme. “Ele falou do lixo, de cães alfa e de um menino.”
O garoto, no caso, é Atari, sobrinho do prefeito Kobayashi, que manda todos os cachorros para a ilha-gueto. Ele rouba um avião e vai até lá para encontrar o seu cachorro, Spots (Schreiber), e acaba contando com a ajuda de Chief e companhia.
O Japão entrou depois, graças à paixão de Wes Anderson e de seus companheiros roteiristas pelo cinema do país, em especial do diretor Akira Kurosawa. “Espero que tenhamos feito certo. E que os japoneses achem que há autenticidade mesmo sendo uma completa fantasia. Mas é uma fantasia que esperamos que se baseie na cultura japonesa, especialmente no cinema japonês.”
A família de cachorros do filme replica o ambiente criado pelo diretor no set. “Se Wes Anderson te pede para limpar a mesa, você faz”, disse Bob Balaban. “Ele inventa um universo. Ele cria um mundo, uma sociedade, comemos juntos, ele faz questão de que todos se sintam em casa. É uma experiência diferente. É uma atenção individual com todos que trabalham no set.”
Cranston contou que nem deixou seu agente terminar a frase começada com “Wes Anderson”, ao propor a participação em Ilha dos Cachorros. “Minha resposta já era ‘sim’, sem nem saber que personagem ele queria que eu interpretasse. Adorei que tenha sido Chief, porque ele é meio ferrado – imagino que seja como Wes me veja. E é como me enxergo. Me vejo como um vira-lata, nunca tive educação formal como ator, aprendi coisas nas ruas, tive uma infância difícil, em que tive de me virar sozinho, então eu conhecia esse cara.”
A cidade de Megasaki expulsa aqueles que seu prefeito considera indesejados – só que, no caso, eles são cachorros fofinhos. “Nós nos inspiramos no que está acontecendo, não no Japão, porque, na verdade, é mais próximo do que está ocorrendo no Texas”, conta Wes Anderson
Os filmes de Wes Anderson são esteticamente perfeitos, e este não é diferente. Há humor e graça, mas é inegável que os ventos que sopram no mundo acabaram influenciando Ilha dos Cachorros, mesmo que ele tenha sido escrito anos atrás. “Nós nos inspiramos no que está acontecendo, não no Japão, porque, na verdade, o filme é mais próximo do que está ocorrendo no Texas”, afirmou o cineasta, que é texano, mas vive na Europa. A cidade de Megasaki expulsa aqueles que seu prefeito considera indesejados – só que, no caso, eles são cachorros fofinhos.