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O resgate da autora que celebrou a Los Angeles do sexo, drogas e rock’n’roll

Meca do cinema e das ilusões ganha sua tradução perfeita na obra de Eve Babitz

Por Marcelo Marthe Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 23 fev 2025, 08h00

Em 1970, quando Janis Joplin vivia entre o auge da fama e a escalada do vício em heroína, a americana Eve Babitz (1943-2021) promoveu uma caça à musa da música em Los Angeles. Escritora e artista plástica, Eve queria criar a capa do próximo disco de Janis. Certa noite, foi ao estúdio onde a cantora estava gravando, mas encontrou-a adormecida num canto, indiferente aos decibéis que saíam da mesa de som. Dias depois, Eve fez nova investida — mas, ao chegar ao hotel onde Janis morava, a cantora jazia apagada numa boia dentro da piscina. Uma semana depois, Janis teve a overdose que tiraria sua vida aos 27 anos. Como narra num dos contos do altamente pessoal e delicioso Dias Lentos, Encontros Fugazes, as tragédias causadas pela heroína na Cidade dos Sonhos eram demais até para seu espírito livre, e explicitavam a difícil transição das mulheres na era da liberação. “Elas não estão preparadas para ter ‘tudo’, não o tipo de ‘tudo’ do sucesso”, escreve, entre a lucidez e o lamento.

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DIAS LENTOS, ENCONTROS FUGAZES, de Eve Babitz (tradução de Cecilia Madonna Young; Amarcord; 240 páginas; 64,90 reais) (//Divulgação)

De maneira talvez até mais aguda que Joan Didion, outra autora que personificou Los Angeles, Eve Babitz tinha autoridade para refletir sobre esse universo: ela própria esteve no olho do furacão da busca pela afirmação e por um lugar ao sol ali — e sobreviveu com brio. De beleza solar e inteligência social notável, foi amante de roqueiros e atores famosos que iam de Jim Morrison a Harrison Ford, posou nua numa célebre fotografia jogando xadrez com o enfant terrible da arte Marcel Duchamp — e, sobretudo, foi a maluca ­beleza que se amarrava em drogas como a cocaína e mil psicotrópicos. Assim, tornou-se símbolo da contracultura dos anos 1960 e 70 e imortalizou em seus livros a cidade de nascimento que amava mais que tudo, cenário do cinema de Hollywood e da mística do entretenimento em geral.

De modo sintomático, a atitude libertária frente à vida fez com que Eve demorasse a ser levada a sério como autora. Mas, se por anos o machismo e a hipocrisia tentaram rotular como fúteis seus relatos plenos de sexo, drogas e rock’n’roll, o tempo realçou suas qualidades literárias. Agora, a onda da autoficção amplia o interesse pelos dez contos de Dias lentos, Encontros Fugazes. Na obra de 1977 que ganha sua primeira tradução nacional, Eve mescla fatos e personagens reais à imaginação. Cada história se passa num lugar de LA, da mítica Sunset Strip aos arredores praianos e desérticos. Entre divagações sobre a qualidade dos Bloody Marys de um bar estrelado, pensatas sobre o vento árido de LA e passeios por festas onde se podia topar com Marlon Brando paquerando mocinhas hippies, Eve incute suas pensatas. “Toda arte se esvai, mas o sexo se esvai mais rápido”, proclama. Nenhum lugar é mais sensual e ilusório que sua Cidade dos Sonhos.

Publicado em VEJA de 21 de fevereiro de 2025, edição nº 2932

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