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O TikTok faz voltar o estilo clássico do Renascimento à moda

A nova tendência para o vestuário entre os jovens é copiar referências do movimento

Por Mariana Rosário Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 15h31 - Publicado em 28 ago 2020, 06h00
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SILVESTRE - O modelo mais procurado: estampa com desenho de morangos – (INSTAGRAM @YOUNG_EMPERORS/.)

De onde ecoam as mais avassaladoras tendências de comportamento hoje? Nove entre dez são difundidas pelo aplicativo chinês TikTok, a rede social com mais de 1,5 bilhão de usuários e que Donald Trump transformou em cavalo de batalha na Guerra Fria contra a China. Não há, enfim, território mais afeito aos interesses da chamada Geração Z (dos nascidos entre 1995 e 2010, de 10 a 25 anos de idade) e ao consumo imediato, ligeiro, do que o infindável arsenal de vídeos curtos, de quinze segundos, ou pouco mais. Caiu, portanto, como uma luva para o universo sempre efêmero — mas interessantíssimo — da moda. O atual sucesso é um vestido de tom rosa-claro com decalques brilhantes em formato de moranguinhos, aplicados em um generoso tecido do tipo tule, que se desdobra em uma saia rodada. O modelo primaveril tem causado furor entre as usuárias, que postam depoimentos relatando ansiedade para a chegada do item depois da compra on-line.

A criação é obra da designer nova-­iorquina Lirika Matoshi e custa 490 dólares, algo em torno de 2  750 reais. Convém ressaltar que não há nenhum item luxuoso na vestimenta que justifique o preço. Mas há um trunfo valioso em tempo de diversidade: manequins que vão do tamanho pequeno ao extragrande. Viralizou, aliás, a imagem da modelo plus size Tess Holliday com um deles na entrega do prêmio Grammy, em janeiro, antes da pandemia, quando o mundo era outro. Mas foi dentro de casa, no confinamento, que o fenômeno explodiu realmente, associado ao interesse pelas coisas do passado, natural e agradável porta de saída para a dureza do cotidiano. O vestido com a estampa silvestre remete, claramente, ao Renascimento, do século XIV ao XVI. A referência está sobretudo no recorte das peças, com mangas levemente bufantes e cintura marcada, logo abaixo dos seios. A saia mais solta, com generosas quantidades de tecido, também conversa com aquele período de transformações na Europa.

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O ANTIGO É MODERNO - Releitura do estilo da mulher do século XIV ao XVI na Europa: mangas bufantes, decotes em linha reta, tiara acolchoada e cintura marcada – (MiuMiu/Divulgação; INSTAGRAM @BLUETIFULMILANO; Zara/Divulgação; Zara/Divulgação)

“O Renascimento foi uma época revolucionária para o vestuário feminino, quando as mulheres descobriram que podiam seduzir os homens ao realçar a cintura”, diz João Braga, professor de história da moda na Fundação Armando Alvares Penteado, de São Paulo. As citações renascentistas vão além: o gosto por tiaras para cabelo acolchoadas e blusas com decote quadrado. “A busca de referências do passado é uma forma de escapar dos problemas do dia a dia”, resume Laura Ferrazza, autora do livro Quando a Arte Encontra a Moda. “Quanto mais distante um período está, mais ele é romantizado e visto como ideal, em contraposição à atualidade.” Vive-se a história de um presente virado de cabeça para baixo — e o guarda-roupa é um bom modo de entendê-lo.

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Publicado em VEJA de 2 de setembro de 2020, edição nº 2702

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