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Os segredos do esconderijo que salvou Michelangelo de sentença de morte

Aberta pela primeira vez ao público, 'sala secreta' ilumina período conturbado da vida do gênio da Renascença

Por Amanda Capuano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h05 - Publicado em 12 nov 2023, 08h00

Em novembro de 1975, o então diretor do Museu das Capelas dos Médici, em Florença, Paolo Dal Poggetto, solicitou a um restaurador que fizesse alguns testes em um corredor estreito abaixo da Sacristia Nova, a fim de verificar a possibilidade de criar ali uma nova passagem de saída. Naquelas paredes, sob duas camadas de gesso, o profissional encontrou uma série de esboços traçados com madeira carbonizada — rascunhos de semelhança notável com os traços do mestre renascentista Michelangelo (1475-1564). Com modestos 10 metros de comprimento, 3 de largura e 2,5 de altura, o local desvendou um antigo mistério: em meados de 1530, Michelangelo desapareceu fugindo da ira da poderosa família Médici, que ordenou sua perseguição e morte — e o local batizado de “sala secreta” foi seu esconderijo por dois meses. A descoberta inestimável será, enfim, aberta pela primeira vez para visitação pública a partir do dia 15 de novembro.

Michelangelo: His Epic Life

Os desenhos remetem a estudos anatômicos e trabalhos feitos pelo artista antes da fuga. Está ali, por exemplo, uma análise da cabeça de Laocoonte, estátua clássica encontrada em 1506 que serviu de inspiração para a estética do pintor, escultor e arquiteto florentino. “É um ambiente pequeno e único pelo seu potencial evocativo. As paredes contêm esboços numerosos, a maioria de formato monumental, que atesta uma grande clareza de design”, diz Francesca De Luca, curadora do museu. Mais do que o encanto causado pelos rascunhos em si, a sala ilumina parte da história de Florença a partir da relação de amor e ódio entre Michelangelo e os Médici, que governaram a região e influenciaram a Igreja Católica por quase dois séculos.

Talentoso desde muito jovem, o artista foi educado dentro da corte a convite de Lorenzo de Médici (1449-1492) e serviu a diversos líderes e a dois papas do clã, Leão X (1475-1521) e Clemente VII (1478-1534). Foram os clérigos, inclusive, que encomendaram a Michelangelo a sacristia nova, para servir de mausoléu à família. Os trabalhos para a construção se iniciaram em 1521, mas foram suspensos em 1527, quando os Médici foram perseguidos e expulsos de Florença. Durante o curto governo republicano que reinou na ausência deles, Michelangelo virou as costas aos seus mecenas e passou a atuar como engenheiro das fortificações da cidade. Quando a família retornou ao poder, em 1530, ele foi colocado na lista de traidores de Baccio Valori, representante do Papa Clemente VII designado como governante da cidade.

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AMOR E ÓDIO - Michelangelo (à esq.) e Clemente VII (à dir.): relação conturbada (Heritage Images/Getty Images; Mondadori/Getty Images)

Na biografia Michelangelo, His Epic Life, o autor Martin Gayford conta que o tribunal local enviou representantes à casa do artista para prendê-lo. Reviraram tudo, mas ele já não estava lá. “A cautela de Michelangelo o salvou”, atesta Gayford. A essa altura, o artista já estava em fuga. Giovan Battista Figiovanni, prior da Basílica de São Lourenço, foi quem o abrigou na sala subterrânea. O clérigo relatou certa vez que um parente de Valori recebeu a tarefa de rastrear e matar Michelangelo, mas nunca o encontrou. Meses depois, com os Médici já bem estabelecidos no poder, Clemente VII ordenou que Michelangelo fosse encontrado e, caso se provasse disposto, retomasse as obras na sacristia. Com o perdão da família, ele voltou a trabalhar na capela dos Médici, mas teria sido movido “mais pelo medo do que pelo amor”, contou o escritor italiano Ascanio Condivi (1525-1574). Com a morte de Clemente VII, em 1534, Michelangelo deixou Florença e partiu para Roma. Lá, concluiria ainda uma última missão deixada pelo papa: antes da morte, o pontífice encomendou a ele o afresco O Juízo Final, que recobre o altar da Capela Sistina.

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Em Florença, deixou oculto sob camadas de poeira o quarto que lhe serviu de refúgio e de tela durante meses de perseguição. Até 1955, tratava-se de um depósito de carvão. Nas duas décadas seguintes, a sala ficou fechada sob uma escotilha coberta por guarda-roupas, móveis e tralhas empilhadas. Finalmente restaurado, o local receberá quatro pessoas por vez. O número limitado deve-se à necessidade de proteger os desenhos e manter condições de conservação adequadas, como a intercalação de luz LED com períodos prolongados de escuridão. Todo cuidado é pouco com o ilustre esconderijo.

Publicado em VEJA de 10 de novembro de 2023, edição nº 2867

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