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Palavras cruzadas são tema de graphic novel lançada no Brasil

Na obra, a evolução do jogo ao longo do tempo é entrelaçada a pequenas doses de suspense na resolução do destino de seus personagens

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 13h50 - Publicado em 14 Maio 2021, 06h00
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  • FÃS DE CARTEIRINHA - Em sentido horário, o ex-presidente americano Bill Clinton, o craque do basquete Michael Jordan e a atriz Brigitte Bardot: adeptos de um dos passatempos mais inteligentes já criados pelo homem -
    FÃS DE CARTEIRINHA - Em sentido horário, o ex-presidente americano Bill Clinton, o craque do basquete Michael Jordan e a atriz Brigitte Bardot: adeptos de um dos passatempos mais inteligentes já criados pelo homem - (Ralf-Finn Hestoft/CORBIS/Getty Images; V.J. Lovero/AFP; Roger Viollet/Getty Images)

    O poeta Manuel Bandeira gostava de decifrar palavras cruzadas para “descansar o espírito e aprender o nome das coisas”. O jornalista e escritor americano Norman Mailer dizia que era como “penteava o cérebro” todas as manhãs. O ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, que chegou a elaborar uma em 2017 para o jornal The New York Times, considera uma atividade “relaxante”, capaz de fazer a mente vagar para outros lugares. A atriz francesa Brigitte Bardot é adepta, assim como a rainha da Inglaterra, Elizabeth II, que resolve as suas após acordar. Misto de desafio, exercício mental e instrumento de aprendizado, o passatempo tal qual o conhecemos hoje em dia nasceu em 1913, em Nova York, e ganhou o mundo nos anos 1920, adquirindo personalidade própria no Reino Unido, França, Alemanha e Itália. Lançada recentemente, a graphic novel Fun (Editora Veneta), do italiano Paolo Bacilieri, conta, em formato de quadrinhos, a história das palavras cruzadas, misturando-a com uma trama ficcional que envolve um vetusto escritor, um jovem quadrinista e uma mulher misteriosa.

    Bacilieri constrói a narrativa de sua obra como se fosse uma grade de palavras cruzadas, entrelaçando a evolução do jogo ao longo do tempo com pequenas doses de suspense na resolução do destino de seus personagens. O livro começa em Nova York, poucos dias antes do Natal de 1913. O jornalista Arthur Wynne, natural da Inglaterra, trabalha como editor da página de entretenimento do New York World, um dos jornais americanos mais populares de sua época. Para preencher o espaço em branco na edição dominical de 21 de dezembro, ele inventa o que chama inicialmente de word-cross puzzle — semanas depois, um erro de revisão inverte a expressão para cross-word e acaba permanecendo assim na língua inglesa. Wynne se inspirou em jogos de palavras de sua infância com palíndromos e versos. A diversão caiu no gosto dos leitores e nunca mais deixou de ser publicada.

    Demorou cerca de dez anos e um conflito, a I Guerra Mundial, para que as palavras cruzadas atravessassem o Atlântico e chegassem à Europa. Pela proximidade da língua, o Reino Unido foi o primeiro país a abraçar o passatempo, em 1922. Dois anos depois, França, Alemanha, Itália, Espanha e Portugal também embarcariam na onda. Em cada um desses países, o jogo ganhou características particulares tanto na forma como no conteúdo, sendo que os britânicos investiram em definições mais enigmáticas, os franceses em pistas irônicas e os alemães e suecos em perguntas objetivas e respostas geralmente mais diretas.

    Nessa mesma época, as palavras cruzadas chegaram ao Brasil. Foram publicadas pela primeira vez em 1925, no jornal carioca A Noite. Em uma reportagem sobre o assunto na primeira página, o periódico apresentava o passatempo: “Está na moda nos Estados Unidos e em diversos países da Europa um curiosíssimo jogo que os ingleses denominam de crossword puzzles, os franceses mots croisés e nós poderíamos chamar simplesmente de palavras cruzadas”. O termo pegou. A primeira revista especializada surgiria em 1948, pela Editora Gertum Carneiro, atual Ediouro, que a batizaria mais tarde com o nome de Coquetel. Segundo Eliana Rinaldi, coordenadora do segmento na editora, a carteira de assinantes duplicou no início da pandemia, quando ocorreu o fechamento parcial do comércio em diversos estados. “É nítido que o confinamento fez renascer, nos leitores em geral, hábitos até então esquecidos”, disse ela.

    A PRIMEIRA DA HISTÓRIA - Charadas: o diagrama criado por Arthur Wynne em 1913 -
    A PRIMEIRA DA HISTÓRIA - Charadas: o diagrama criado por Arthur Wynne em 1913 – (./Reprodução)

    Aparentemente inocentes, as palavras cruzadas foram suspeitas até de espionagem — o que ocorreu de fato. Em 1939, pouco antes da ocupação alemã da França, a autora Simone de Beauvoir escreveu em seu diário que elas haviam sido proibidas para evitar o envio de mensagens criptografadas. Em agosto de 1944, o britânico Leonard Dawe, responsável pelos jogos do jornal Daily Telegraph, quase foi acusado de alta traição por causa de seu trabalho. Dois dias antes do desembarque dos exércitos aliados na Normandia, o jornal trouxe um diagrama que, ao ser resolvido, mostrava palavras como Utah, Omaha, Neptune e Overlord, todas ligadas ao ataque que abriria caminho para a derrota da Alemanha nazista na Europa. O MI5, serviço secreto britânico, foi atrás dele e o interrogou com rigor. Em seguida, ele seria liberado e o caso, arquivado.

    Nos dias atuais, as palavras cruzadas passaram também por uma transformação tecnológica, com a adaptação para o mundo virtual. Além dos jornais, que seguiram a tendência, há sites especializados tanto em promover os passatempos como em ajudar a resolvê-los, o que, diga-se, torna o exercício menos desafiador. Seja como for, elas continuam a ser uma diversão e tanto — e um belo descanso para o espírito.

    Publicado em VEJA de 19 de maio de 2021, edição nº 2738

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