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Palmirinha sobre violência doméstica: ‘Estava sempre machucada’

Aos 86, cozinheira querida pelo público faz apanhado da vida e da carreira e fala sobre seu canal no YouTube e quais as suas condições para voltar à TV

Por Meire Kusumoto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 ago 2017, 09h05 - Publicado em 9 ago 2017, 09h04

Uma das figuras mais carismáticas da televisão brasileira, a cozinheira Palmirinha Onofre, 86 anos, pode estar fora do ar, mas não na geladeira. Sem programa há dois anos, quando o grupo Fox deixou de renovar seu contrato, Palmirinha, que trabalhou por quatro anos ao lado de Ana Maria Braga no Note e Anote, da Record, e por mais de dez na TV Gazeta, antes de dar expediente no canal pago Bem Simples, de 2012 a 2015, segue como garota-propaganda de supermercado e refrigerante, como autora de livros e revistas de culinária e também na internet, onde pretende reconfigurar seu canal no YouTube com novas receitas. A VEJA, além do futuro, Palmirinha fala sobre a infância dura e o casamento turbulento com o pai de suas três filhas, de quem sofria violência doméstica, e sobre as duas doenças graves que teve – primeiro um câncer de útero, na década de 1980, e depois uma infecção urinária que quase evoluiu para uma generalizada, em 2013. Ela ainda comenta programas culinários como o reality show MasterChef Brasil, da Band, e o Tempero de Família, apresentado por Rodrigo Hilbert no GNT. “Foi ele mesmo quem montou a cozinha. E é muito bonitão”, diz. “Na minha época, o homem que ia para a cozinha era maricas. Agora não, a mulher fica conversando com as amigas e o homem que vai para a cozinha. Acho bacana.”

 

A senhora foi morar com uma francesa, dona Georgette, aos 6 anos. Por quê? Meu pai queria que eu tivesse estudo, um futuro melhor, e não podia me dar isso. A relação com a minha mãe também era difícil. Ela não tinha estudo, veio com 14 anos da Itália, teve que trabalhar, então a gente perdoava. A francesa disse que eu seria sua dama de companhia. Ela me pôs para estudar, mas eu era preguiçosa, falava que ia para a escola e ficava brincando na Praça da República. A dona Georgette me levava para conhecer lugares como o Museu do Ipiranga, o Instituto Butantan, o Teatro Municipal. A gente dormia na mesma cama de casal. Ela me deu tudo.

A senhora mantinha contato com seus pais? Sim, eu sempre ia passar o Natal com a minha família. Depois que vim para São Paulo, as coisas com a minha mãe mudaram porque eu só a via uma vez por ano, então a gente tinha mais saudade.

Foi com a francesa que a senhora aprendeu a primeira receita? Não, minha mãe me ensinou a fazer pão antes. Com a francesa, aprendi a fazer pudim de leite condensado e molho bechamel. Eu me encantei por aquilo.

Como a senhora avalia a sua infância? Eu não tive infância (pausa e se emociona). Desculpa. Eu não tive infância e nem juventude. Eu não podia brincar, ter uma infância como todo mundo teve. Por isso, quando vejo os jovens que me abraçam e me chamam de vovó Palmirinha, sinto que eles vivem aquilo que eu nunca vivi, então brinco, dou selinho. Quando eu tinha de 13 para 14 anos, meu pai faleceu e eu fui para Bauru para o velório. Eu ia voltar para São Paulo, mas não consegui porque precisei ajudar minha mãe em casa. Mais tarde, eu me casei e continuei em Bauru com o meu marido e as três filhas que tivemos, antes de mudarmos para São Paulo e me hospedar com uma cunhada que trabalhava na casa de um político, onde comecei a trabalhar como cozinheira, uma vez por semana.

Palmirinha Onofre

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Como era o relacionamento com seu marido? A família dele era boa, mas ele, infelizmente, não contribuiu para que a gente continuasse junto. Depois que as minhas filhas mais velhas se casaram e saíram de casa, depois de 20 anos de casamento, eu falei: “Chega”. Ele me maltratava muito. Eu segurei, porque pensava que, se me separasse, minhas filhas poderiam não ter um bom casamento. Mulher separada não era bem vista.

Ele a agredia fisicamente? Batia, sim. Eu estava sempre com o olho inchado, machucada, com roxos pelo corpo. Naquela época, tinha o Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização) e eu me matriculei para tentar terminar os estudos. Eu trabalhava durante o dia e estudava à noite. Quando eu chegava em casa, ele achava que eu estava em outro lugar e era aquele auê. Nunca fui revoltada por causa disso, sempre fui alegre, feliz. Nunca fiz as minhas filhas pagarem pelo que sofri. Tem mãe que desconta nos filhos. Eu não. Sempre tive o maior carinho, usava roupa bem velha para que elas pudessem ir arrumadinhas para a missa.

Suas filhas viam o pai agredindo a mãe? Eu fechava a porta, mandava elas irem para outro quarto, procurava esconder, mas elas viam.

O que sentiu depois da separação? Eu me sentia muito sozinha, sentia falta das minhas filhas – duas eram casadas, eu não queria preocupá-las, e a mais nova viajava muito com a senhora para quem eu trabalhei, que era madrinha dela. Sentava no sofá e não tinha vontade nem de comer de tanta saudade (pausa e se emociona). Chorava sozinha. Não tinha ninguém que ficasse comigo. Nunca tive amigas. Minhas amigas eram as minhas filhas.

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Quando adoeceu, procurou suas filhas? Eu me sustentava cozinhando para fora, nunca quis que as minhas filhas pagassem meu convênio e aluguel, não queria dar preocupação ou que me fizessem parar de trabalhar. Quando fui diagnosticada com câncer de útero, na década de 1980, escondi das minhas filhas, mas tinha uma boa poupança. Fiquei um ano afastada e mantive a minha casa. Eu não acreditava que estava doente, porque trabalhei até o último dia antes de fazer a cirurgia. Não sentia nada. Aliás, escondi doenças delas duas vezes – na segunda, em 2013, tive um problema de rim e fiquei entre a vida e a morte. Nos dois casos, elas acabaram descobrindo. Foi por causa dessa doença de 2013 que vim morar com a Sandra, minha filha. Ela contratou uma enfermeira que me levava no colo e me dava banho. Pensei: “Eu não vou voltar”. Estava pronta para ir.

Quando veio o primeiro convite para participar do programa da Ana Maria Braga na Record, depois de uma participação ruidosa no programa Silvia Poppovic, o que pensou? Eu não tinha tempo de ver TV e nem sabia que existia esse programa. Quando a minha filha me falou do convite, eu perguntei: “Note e Anote? O que é isso?”. Eu chamava a Ana de Aninha. Ela disse que, por isso, ia me chamar de Palmirinha. E ficou. Nunca esperei virar estrela e não me acho famosa até hoje (risos).

Palmirinha Onofre

Sua última atração na TV foi o Programa da Palmirinha, no canal Bem Simples, do grupo Fox. Ficou chateada por não ter o contrato renovado? Não, foi bom enquanto durou. Fui até para a Argentina gravar. Achei que as pessoas iam me esquecer, porque não é todo mundo que tem TV paga, pensei que ia morrer um pouquinho. Mas foi maravilhoso, fiquei mais conhecida.

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A senhora rompeu relações com o Anderson Clayton, intérprete do Guinho. Por que isso aconteceu? Tudo tem um tempo, um prazo de validade. Eu também não estou na televisão. Se estivesse trabalhando ainda, quem sabe ele não estaria do meu lado? Mas, infelizmente, o trabalho que ele fazia de assessoria de imprensa não me servia, não me agradava. Achei melhor a gente sair numa boa, desejar tudo de bom para ele. Não teve briga. E não teve nada com o boneco. O boneco é o Guinho, meu amigo, meu netinho.

A senhora voltou a falar com ele? A gente não tem oportunidade de falar. Quem sabe um dia a gente não se encontra, não se abraça? Da minha parte, não há mágoa, eu sinto saudade dele, muita saudade (se emociona).

Pensa em voltar à TV? Já tive propostas de três emissoras abertas, mas não quero mais apresentar um programa todo dia, se fosse duas vezes por semana, até aceitaria. Quero ficar com meus netos e bisnetos, curtir um pouquinho.

Morre Palmirinha, apresentadora e cozinheira

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A senhora assiste a programas culinários e realities gastronômicos? Vejo, vejo muito. É bacana, aprendo com eles. Tem um chef que cozinha tudo na grelha em um programa da GNT. Como é que ele chama, mesmo? Às vezes, de domingo, eu nem saio de casa só para ficar vendo. Felipe Bronze é o nome dele. Até a sobremesa ele faz na churrasqueira, torra pão, frita batata, banana, tudo ali. Depois, ele serve dois convidados, dá entrada, prato principal, sobremesa e ainda um vinho. Eu fico apaixonada. Ele é uma simpatia.

E o MasterChef? Vejo e fico com pena quando eles são eliminados. Eles são ótimos! Tem uma senhora de óculos (Miriam) e uma oriental (Yuko) que cozinham muito bem. Um que cortou o dedo (Vitor Bourguignon), fiquei com tanta pena.

O que acha de cozinheiras como a Bela Gil, que prezam por usar alimentos orgânicos e se preocupam constantemente com a alimentação saudável? Muito bom. Outro dia, ela fez uma salada de abobrinha que ficou maravilhosa. É ótimo que ela vai à chácara e pega o tempero fresquinho. Isso é importante na culinária, coisa fresca, boa, nova.

E o programa do Rodrigo Hilbert, a senhora vê? O que acha de programas de culinária estrelados por homens? Adoro ele. Foi ele mesmo que montou a cozinha dele e cozinha bem. E é muito bonitão (risos). Eu gosto de programas estrelados por homens. Na minha época, o homem que ia para a cozinha era maricas. Agora não, a mulher fica conversando com as amigas e o homem que vai para a cozinha. Acho bacana.

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