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Poeta Louise Glück conquista o Nobel de Literatura em 2020

Americana de 77 anos foi eleita como uma 'voz poética inconfundível' pela Academia Sueca

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 out 2020, 09h53 - Publicado em 8 out 2020, 08h09
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  • A poeta americana Louise Glück conquistou o Nobel de Literatura em 2020. O anúncio foi feito pela Academia Sueca, responsável pela honraria, na manhã desta quinta-feira, 8. Segundo a Academia, Louise é uma “voz poética inconfundível que com sua bela concisão faz da existência individual algo universal”. 

    O prêmio será entregue direto à vencedora e não na tradicional cerimônia em Estocolmo, que normalmente acontece no fim do ano, por causa da pandemia. Ela será convidada para uma homenagem na cerimônia do ano que vem.

    Nascida em Nova York, em 1943, filha de uma família de imigrantes húngaros de origem judaica, Louise Glück começou a carreira em 1968, com o lançamento da primeira de doze coletâneas de poesias, Firstborn. Desde então, tem sido aclamada como uma relevante voz da literatura atual, sendo premiada com o Pulitzer Prize (1993) e o National Book Award (2014). Além de poetisa, Louise é uma prestigiada ensaísta e professora de literatura na Universidade de Yale. Em sua obra, ela escreve especialmente sobre relações familiares, muitas vezes sob a ótica ou influência de mitos clássicos gregos e romanos, e a partir de um fundo autobiográfico.

    Leia abaixo dois poemas de Louise Glück, traduzidos para o português pelo professor, autor e tradutor Pedro Gonzaga:

    O dilema de Telêmaco  

    Nunca consigo decidir
    o que escrever
    nas lápides de meus pais. Sei

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    o que ele quer: ele quer
    amado, o que por certo
    vai direto ao ponto, particularmente
    se contarmos todas
    as mulheres. Mas

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    isso deixa minha mãe
    a descoberto. Ela me diz
    que isto não lhe importa
    para nada; ela prefere
    ser representada por

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    suas próprias conquistas. Parece
    pura falta de tato lembrar aos dois
    que alguém não
    honra aos mortos perpetuando
    suas vaidades, suas

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    projeções sobre si mesmos.
    Meu próprio gosto dita
    precisão sem
    tagarelice; eles são
    meus pais, consequentemente

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    eu os vejo juntos,
    às vezes inclinado a
    marido e mulher, outras a
    forças opostas.

    Ítaca

    O ser amado não
    precisa viver. O ser amado
    vive na cabeça. O tear
    é para os pretendentes, suspenso
    como uma harpa de brancos filamentos.

    Ele era duas pessoas.
    Era corpo e voz, o fácil
    magnetismo de um homem vivo, e então
    o sonho revelado ou a imagem
    formada pela mulher manejando o tear,
    ali sentada num salão cheio
    de homens de mentes literais.

    Se te causa pena
    o mar enganado que tentou
    levá-lo para sempre
    e devolveu apenas o primeiro,
    o verdadeiro marido, deverias
    sentir pena desses homens: eles não sabem
    para o que estão olhando;
    eles não sabem que quando alguém ama dessa maneira
    o manto se torna um vestido de casamento.

    Após se envolver em um escândalo de assédio sexual em 2017, a Academia Sueca agora retorna à velha rotina. No ano passado, Olga Tokarczuk e Peter Handke foram anunciados juntos como vencedores do Nobel de Literatura. O austríaco venceu por 2019, enquanto a polonesa levou o prêmio pelo ano de 2018, quando a cerimônia foi cancelada. A pausa ocorreu em resposta ao caso do ano anterior, quando Jean-Claude Arnault, marido de Katarina Frostenson, escritora e membro da Academia, foi acusado de assédio sexual por 18 mulheres. Arnault foi condenado a dois anos de prisão por estupro.

    Ao cancelar a entrega do prêmio, a instituição disse que perdeu a “confiança” no mundo exterior e que estava “enfraquecida”. A Academia declarou ainda que precisava de “tempo para recuperar sua força plena, envolver um número maior de membros ativos e restaurar a confiança nela antes de escolher um novo vencedor”.

    As controvérsias, porém, continuaram. A escolha do premiado, Peter Handke, causou furor pelo passado do autor, acusado de ser um negacionista do genocídio da Guerra dos Balcãs, e defensor de Slobodan Milosevic, chamado de “Carniceiro dos Bálcãs”, tendo não só comparecido a seu julgamento em Haia como ido ao funeral dele, em 2006, para prestar homenagem.

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