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Pressão de ativistas e crise financeira ameaçam zoológicos

De um lado, protetores defendem o fim de animais em cativeiro. De outro, o coronavírus fez com que os turistas sumissem

Por Amauri Segalla
Atualizado em 4 jun 2024, 13h49 - Publicado em 24 jul 2020, 06h00
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  • Desde que o primeiro zoológico surgiu há quase 200 anos em Londres, na Inglaterra, animais como o tigre-de-java e o lobo-da-tasmânia desapareceram da face da Terra, milhares de espécies foram catalogadas pela ciência, a ovelha Dolly tornou-se o primeiro mamífero clonado, pesquisadores descobriram que 98,7% do DNA de bonobos e humanos são idênticos e muitos outros acontecimentos fantásticos mudaram a relação entre homens e bichos. Enquanto isso, nos últimos dois séculos os zoos permaneceram os mesmos, mantendo-se como espaços de confinamento para a diversão dos humanos. Agora isso pode mudar. Um movimento iniciado na Europa e que se alastrou por diversos países prega a completa reformulação dos parques ou até mesmo a sua extinção. “Não temos o direito moral de permitir que os animais sofram apenas porque somos curiosos e desejamos observá-los de perto”, diz Damian Aspinall, presidente da fundação que administra o zoo inglês How­letts Wild Animal Park. Ele lidera uma cruzada mundial que defende o fechamento de todos os zoológicos do mundo — inclusive o seu.

    Aspinall dedicou os últimos anos de sua longa trajetória em zoológicos para questionar espaços que mantêm animais enjaulados ou que são acusados de maus-tratos. No Reino Unido, convenceu colegas de outros zoos a criar programas destinados à devolução dos bichos à natureza e, recentemente, reuniu-se com especialistas americanos para lançar uma frente global para tratar do assunto. Embora pareça distante o dia em que não haverá mais parques com bichos em exposição, é certo que esses espaços vão sofrer grandes transformações. Nos Estados Unidos, pelo menos dez zoológicos clandestinos que mantinham felinos em jaulas foram desativados nos últimos cinco anos e, na maioria dos países da Europa, a tendência é construir recintos maiores que reproduzam minimamente o ambiente natural dos animais. No Brasil, o BioParque do Rio de Janeiro promete adotar o modelo mais amigável para os bichos, e existem projetos parecidos em Belo Horizonte e São Paulo. Os americanos apostam em recursos tecnológicos para diminuir o contato entre homens e animais (veja o quadro ao lado).

    Os zoológicos estão no meio de um terremoto. Uma decisão recente da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies Ameaçadas (Cites) proibiu a captura e o comércio de elefantes africanos. Não significa que eles serão banidos dos zoos, mas apenas que substituí-los será cada vez mais difícil. Com o passar dos anos, se os níveis de reprodução forem baixos, a população confinada desses gigantes vai cair drasticamente. Ameaçados pelos ativistas, os zoos também sofrem com as restrições impostas pela crise do coronavírus. O San Francisco Garden, considerado um dos melhores dos Estados Unidos, foi obrigado a queimar um empréstimo de 2,6 milhões de dólares para honrar compromissos. Mesmo reaberto, a situação não melhorou muito: o fluxo de turistas continua baixo em respeito ao isolamento social. Na Alemanha, cogitou-se até o abate de animais para conter custos, medida que felizmente não foi necessária. Os defensores dos zoos argumentam que eles são importantes para despertar, especialmente nas crianças, o amor pelos animais. Há também uma corrente que valoriza as contribuições científicas desses lugares. São aspectos que merecem ser considerados. O que não se pode aceitar é que os animais sofram apenas para entreter humanos.

    Publicado em VEJA de 29 de julho de 2020, edição nº 2697

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