O filme Medida Provisória, primeiro longa-metragem dirigido por Lázaro Ramos, que será exibido nesta quarta e quinta-feira (15 e 16 de dezembro) no Festival do Rio, segue sem previsão de lançamento no Brasil. A estreia no circuito nacional continua travada devido ao atraso da liberação da Ancine. Nesta quarta, os produtores do filme divulgaram um comunicado contestando a justificativa da Ancine, enviada a reportagem de VEJA na semana passada.
No comunicado da Ancine, o filme, que recebeu 2,7 milhões por meio do fundo Setorial do Audiovisual (FSA), estava em fase de análise do pedido de investimento para a sua distribuição nas salas de cinema. “O investimento em distribuição é uma opção do Fundo para aumento da sua rentabilidade, a ser decidido após conclusão da análise técnica. O projeto, portanto, segue o trâmite normal no âmbito da Agência”, diz um trecho da nota.
Em resposta à Ancine, os produtores disseram que a inscrição em opção de comercialização foi regularmente feita pela produtora dentro do prazo estabelecido para este procedimento. “O que impede o lançamento da obra é, na verdade, a demora da Ancine em concluir os trâmites necessários para a troca de distribuidora do filme”.
Os produtores argumentaram ainda que a situação já provocou duas mudanças da data de estreia e tem gerado uma profunda insegurança jurídica para os produtores e distribuidoras envolvidas. “A ausência de uma posição da Ancine impede que sejam tomadas as medidas necessárias para divulgação do filme e, consequentemente, para definição da data de lançamento comercial em cinemas no Brasil”, completa.
Desde sua finalização, o filme – que apresenta uma visão distópica dos problemas raciais do país – vem acumulando críticas positivas e prêmios em festivais internacionais. Baseado em uma peça teatral do começo dos anos 2000, escrita por Aldri Anunciação, ela fala de um governo que, alegando o suposto intuito de “reparar” as injustiças da escravidão, determina que todos os negros sejam despachados para a África de seus antepassados. Vale lembrar que a história, embora fictícia e ambientada nos dias atuais, não é tão distante da realidade. No século XIX, os Estados Unidos ajudaram a criar a República da Libéria e mandaram para lá ex-escravos.
Em diversos momentos, a trama dialoga com o Brasil do presente, lançando farpas contra os políticos e a intolerância – o que muitos poderiam interpretar como críticas ao governo Jair Bolsonaro, ao qual a Ancine é vinculada. Em entrevista a VEJA, Lázaro Ramos nega essa intenção. Ele afirma que o filme começou a ser escrito em 2013, embora se mantenha atual diante dos acontecimentos do Brasil de hoje. “O roteiro começou a ser feito em 2013, e mudamos muito pouco. Tem o talento dos roteiristas de farejar o que poderia acontecer no futuro caso continuássemos com determinados comportamentos. A fala de que mais gosto está no roteiro desde 2015. O personagem do Seu Jorge diz: ‘Como é que a gente não percebeu que isso ia acontecer?'”, disse Lázaro Ramos. Além de Seu Jorge, o elenco conta ainda com Taís Araújo, Alfred Enoch, Adriana Esteves, Renata Sorrah, Mariana Ximenes e Emicida.
Leia o comunicado na íntegra:
Medida Provisória, primeiro longa de ficção dirigido por Lázaro Ramos, terá exibições pontuais no Festival do Rio, nestes dias 15 e 16 de dezembro, mas segue sem previsão de lançamento no Brasil.
Em resposta à Imprensa, a ANCINE informou que o filme Medida Provisória estaria “em fase de análise do pedido de investimento para a sua distribuição em salas de cinema” e que o projeto seguiria seu trâmite normal no âmbito da Agência. Gostaríamos de informar que a inscrição em opção de comercialização foi regularmente feita pela produtora dentro do prazo estabelecido para este procedimento.
O que impede o lançamento da obra é, na verdade, a demora da ANCINE em concluir os trâmites necessários para a troca de distribuidora do filme. Embora a Análise de Alteração Técnica realizada pela Coordenação de Análise Técnica e Seleção em 20/08/2021 não tenha encontrado óbices para aprovação da nova distribuidora, até o momento a Superintendência de Fomento não tomou as devidas providências. Com isso, a data de lançamento do filme já precisou ser alterada duas vezes.
Esta situação gera profunda insegurança jurídica para as produtoras e distribuidoras envolvidas, pois a ausência de uma posição da Ancine impede que sejam tomadas as medidas necessárias para divulgação do filme e, consequentemente, para definição da data de lançamento comercial em cinemas no Brasil.
Reiteramos que estamos confiantes de que encontraremos uma solução junto da ANCINE e esperamos muito em breve poder divulgar a data de lançamento do filme Medida Provisória.