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Quem são os superprodutores que fabricam os hits do pop nacional

Cortejados por artistas como Anitta e Lulu Santos, craques como Papatinho e o duo Tropkillaz estão por trás dos sucessos que embalam o dia a dia brasileiro

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h53 - Publicado em 13 dez 2019, 06h00
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  • Em sua adolescência, no início da década passada, o carioca Tiago da Cal Alves não cultivava lá grandes objetivos na vida. Papatinho — o apelido é um trocadilho com a palavra “sapatinho” — tinha como principal atividade a venda de coletâneas de canções que baixava na internet e passava para CDs virgens. Enquanto praticava a pirataria em pequena escala, desenvolveu outra habilidade: tornou-se um ás do sampler, técnica da colagem de trechos de músicas. Usou esse talento num projeto musical, o combo de hip­-hop Cone Crew Diretoria, e posteriormente nas produções de artistas como Marcelo D2 e Gabriel O Pensador. “Eles eram meus ídolos e, de repente, pediam minha colaboração”, diz. Hoje, aos 33 anos, Papatinho pertence a uma casta valorizada no showbiz: a dos superprodutores. O leitor pode não conhecer seu nome nem o dos outros três consórcios de profissionais que dominam essa seara — Los Brasileros, Brabo Music e Tropkillaz. Mas dificilmente escapou de ouvir composições com suas digitais. Eles fabricam os hits que embalam o dia a dia dos brasileiros. De Onda Diferente (produção de Papatinho), passando pelas baladas do cantor Jão, ao soul de IZA e à música de Pabllo Vittar, praticamente tudo no novo pop nacional tem o dedo desses superprodutores (confira os quadros ao final da reportagem). A profissão não nasceu ontem, é claro. Na década de 70, esse tipo de profissional já era uma figura influente. “Muitas vezes, impúnhamos nossa visão ao artista. Dávamos palpite até na capa e no marketing do disco”, diz Marco Mazzola, um dos principais produtores brasileiros da velha-guarda. Desde então a categoria ampliou seu poder como nunca. Na era da competição feroz pelos ouvintes nas plataformas de streaming, a alquimia dos arranjos, as batidas e até o momento em que o refrão entra numa faixa são truques essenciais — e quem os maneja são essas eminências de bastidores, não os intérpretes sob os holofotes. “Hoje, somos autores e produtores. Em 90% dos casos, eu crio a batida, faço a melodia e boto minha cara no trabalho”, resume Papatinho.

    Desde a onipresente Anitta até o expoente do hip-hop romântico Vitão, os artistas se associam a esses profissionais em busca de uma grife. Obviamente, há nuances no trabalho dos produtores. Enquanto o duo Trop­killaz explora a malícia funk em sucessos como Vai Malandra (385 milhões de visualizações no YouTube), de Anitta, o trio Los Brasileros esmera-se nos refrãos de canções como Café (46 milhões de visualizações), do paulistano Vitão. Mas existem denominadores comuns. Os novos superprodutores são exímios em promover cruzamentos entre gêneros brasileiros e internacionais. Sabem também dar às músicas uma roupagem pop moderna e dançante, na linha do que fazem precursores americanos como o rapper e produtor Dr. Dre e o duo The Neptunes.

    No pacote vem junto mais uma benesse: os clientes-artistas podem usufruir as boas relações dos produtores nacionais com nomes conhecidos do exterior. Papatinho tem no currículo parcerias com o rapper americano Snoop Dogg. Meses atrás, uniu-se a will.i.am, produtor e líder do grupo Black Eyed Peas, para a criação de uma canção. “Ele queria um funk porque acha que é a música do futuro”, diz. O Tropkillaz construiu reputação lá fora antes de triunfar por aqui. O DJ Zé Gonzales deixou o grupo Planet Hemp em 2003 e foi morar nos Estados Unidos. Ao lado de André Laudz, já fez trabalhos com o colombiano J Balvin, ídolo do reggaeton, e com a americana Ally Brooke, do Fifth Harmony.

    Os novos hitmakers não se contentam em produzir seus artistas: querem empresariá-los. Pedro Dash e Marcelinho Ferraz, líderes do trio Los Brasileros, são proprietários do selo Head Media, que cuida da carreira de cantores como Jão e Vitão. “A gente faz uma parceria entre o selo, o escritório e o artista para que todo mundo saia ganhando”, explica Dash, de 36 anos. Papatinho possui o Papatunes, que lançou os cantores L7nnon e Baker. Talentos batem à porta dos novos astros do estúdio. “Vitão era nosso estagiário. Fazia café, ia ao supermercado, até que um dia mostrou as músicas e vimos que era bom”, conta Dash. Pabllo Vittar foi uma aposta do curitibano Gorky, de 38 anos. Ele reuniu um time de colaboradores, o Brabo Music, para dar uma cara à música da drag queen.

    Lapidar um novo hit pode ser exaustivo. Muitas vezes o produtor trabalha com um rascunho de canção ou refrão, que vai sendo aperfeiçoado no estúdio. “A gente passou oito meses gravando até achar a música ideal para lançar o trabalho do Jão”, diz Dash. “No segundo disco da Pabllo, fizemos 100 rascunhos, que viraram trinta ideias de música, que afunilaram para vinte e, finalmente, as dez que entraram na seleção”, diz Gorky. O esforço compensa: Papatinho e Tropkillaz ganham entre 30 000 e 60 000 reais para produzir uma música, enquanto Los Brasileros embolsa 25 000 reais por faixa, fora a participação nos direitos autorais.

    As parcerias por vezes rendem imbróglios. A funkeira Ludmilla criou Onda Diferente, um dos hits de 2019 (85 milhões de visualizações), e o deu para a amiga Anitta gravar. Papatinho levou crédito pela produção e o rapper Snoop Dogg ganhou seu quinhão pela composição. Mas, para espanto de Ludmilla, Anitta também se creditou como parceira. O caso rendeu brigas entre as duas e uma discussão sobre a autoria musical num tempo em que os hits são criações coletivas. “Fiquei no meio do fogo cruzado. Gosto das duas”, diz Papatinho. Ser político faz parte da vida de um superprodutor.


    PAPATINHO

    PAPATINHO-E-LUDMILLA
    (@papatinho/Instagram)
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    Principais hits
    ‘Onda Diferente’ (Anitta, Ludmilla e Snoop Dogg), ‘Dois Copos’ (Papatinho, Ferrugem, Kevin O Chris) e ‘Como Ela Vem’ (Papatinho, Xamã, PK e Orochi)

    Fórmula do sucesso
    Oriundo do hip-hop, o produtor(na foto menor com Ludmilla) flerta com o funk, o samba e o rap. Atua ainda na garimpagem de novos artistas, como L7nnon e Baker


    BRABO MUSIC

    RODRIGO-GORKY
    (@djGorky/Instagram)

    Principais hits
    ‘K.O.’ (Pabllo Vittar), ‘Sua Cara’ (Major Lazer) e ‘Garupa’ (Luísa Sonza)

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    Fórmula do sucesso
    Seu líder, o DJ Gorky, é o mentor do fenômeno Pabllo Vittar (na foto, os dois com Charli XCX). Ele e seus parceiros ­Maffalda, Zebu, Arthur Marques e Pablo Bispo dão roupagem pop a gêneros como o axé e o brega


    LOS BRASILEROS

    LOS-BRASILEROS
    (@Losbrasilerosofficial/Instagram)

    Principais hits
    ‘Linda’ (Anavitória e Projota), ‘Caderninho’ e ‘Café’ (Vitão) e ‘Louquinho’ (Jão)

    Fórmula do sucesso
    O trio formado por Dan Valbusa e Pedro Dash (na foto, com Anitta), além de Marcelinho Ferraz, faz fusões palatáveis de ritmos como hip-hop e reggaeton. E domina a arte dos refrãos

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    TROPKILLAZ

    TROPKILLAZ
    (@tropkillaz/Instagram)

    Principais hits
    ‘Bola Rebola’ (Anitta, J Balvin e MC Zaac), ‘Vai Malandra’ (Anitta, Maejor e Yuri Martins) e ‘Quem Mandou Chamar’ (IZA e Matuê)

    Fórmula do sucesso
    Os produtores Zegon e André Laudz (com J Balvin na foto) combinam dance music e sons do Brasil, como funk e samba, passando por ritmos jamaicanos e pelo hip-hop

    Publicado em VEJA de 18 de dezembro de 2019, edição nº 2665

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    Álbum Não Para Não, da cantora Pabllo Vittar
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    Álbum Lobos, segundo disco do cantor Jão

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