Por que resolveu falar de saúde mental de forma cômica em sua nova peça, Terapia Infernal, em cartaz no Rio e que vem para São Paulo em outubro? Amo fazer terapia. Uma das características da boa terapia é a gente perceber que os demônios estão dentro de nós. Fiquei elaborando minhas próprias questões na época da pandemia e me assustei ao ver o que somos capazes de fazer — de repente, ficamos menos empáticos. Daí criei uma peça em que o Diabo faz terapia para entender os humanos, de maneira divertida.
Muitos homens não fazem terapia porque não acreditam que precisem. Tenta desmistificar esse assunto com seus amigos? Não de uma forma panfletária, mas acho bom falar mais sobre isso, porque nós, homens, somos culturalmente incentivados a não expor sentimentos e queremos passar a sensação de que podemos dar conta de tudo sempre — e não é bem assim.
Com a bagagem de quem faz comédia há vinte anos, o que pensa que mudou de lá para cá? Muita coisa. A comédia tem de estar sempre atualizada, porque é uma linha de diálogo direta com a plateia, tem de estar atenta aos assuntos que são relevantes.
Como equilibrar a comédia com a política atualmente, ainda mais no Brasil, onde tudo está polarizado? É complicado. Política é um excelente exemplo, porque contaminou tudo. Se você tem uma opinião, quer dizer que é totalmente contrário a outra? Acho que são tempos sombrios que estamos enfrentando, porque acabamos nos fechando para o outro que pensa diferente.
Seu personagem Carlinhos Avelar, do Plantananã, imita um colunista de fofoca caricato, que vomita um monte de informações e agora tem um quadro no Fantástico. De onde saiu a inspiração para a criação dele? Veio dessa mania que nós temos de rolar os feeds das redes sociais, vendo uma quantidade absurda de informação ao mesmo tempo, de forma superficial, e achando que tudo aquilo é real.
Recentemente você esteve em Família É Tudo, novela da Globo criticada por ter influenciadoras digitais, como Rafa Kalimann, no elenco. O que pensa dessa discussão? Hoje vemos um fenômeno de pessoas migrando da internet para a dramaturgia. Acho que atores de formação, como eu, temos toda a razão em questionar a escalação de influenciadores. Mas penso que está todo mundo um pouco perdido nessa busca tão agressiva por audiência.
Publicado em VEJA de 27 de setembro de 2024, edição nº 2912