Regina Duarte: ‘O ser humano me atrai mais que a política’
Aos 78 anos, a atriz de novelas da Globo e ex-secretária de Cultura do governo Bolsonaro fala do que a inspira em sua nova carreira de pintora

Por mais de cinquenta anos, a senhora estrelou grandes novelas da Globo, como Vale Tudo (1988). O que a motivou a assumir esse lado de artista plástica agora? Eu só assumo o que me apaixona. Se estou nas artes plásticas, é porque elas são apaixonantes. Uma mulher na minha idade, tendo passado por tantas experiências como eu passei, estar desenhando, pintando e reproduzindo o humano em telas é muito gratificante.
O que a inspirou a criar as obras que estão na sua recente exposição em São Paulo, Expressão em Dois Atos? O ser humano me inspira. Por exemplo: mulheres como as atrizes Isadora Cruz e Alice Carvalho, da novela Guerreiros do Sol (Globoplay), são inspiradoras, porque também sou atriz. A vida inteira lidei com o feminino. Espero que ainda consiga me comunicar.
Tem vontade de voltar às novelas? Estou sempre esperando que a vida me dê uma direção, um indicativo do que devo fazer. Esse indicativo me vem através do meu anjo, que me mostra coisas, chama minha atenção. Se ele me indicar que tal coisa vai me dar alegria e prazer, eu vou abraçar.
A senhora foi secretária de Cultura do governo de Jair Bolsonaro. A política não a inspira? Não. Acho que a política tem um espaço no país, e eu sou de outro espaço, sou artista. O que me atrai, mais que a política, é o ser humano. Sou atraída pelas qualidades, as dificuldades e as experiências das pessoas. Então, acho que não tem nada a ver comigo passar a me expressar politicamente a essa altura da vida.
Em seu perfil nas redes sociais, aliás, a senhora costumava ser mais vocal politicamente, mas há um tempo se distanciou desse assunto. Por quê? Tenho uma força interior que me leva a me manifestar a respeito de uma coisa ou outra. Além de artista, também sou cidadã. Amo meu país, quero o melhor para ele e para o povo brasileiro. Então, às vezes sinto um impulso de me manifestar sobre alguns temas, mas isso não é uma necessidade constante, nem gostaria que as pessoas esperem de mim atuações nessa área.
Por muito tempo, a senhora defendeu ferrenhamente Bolsonaro e até integrou seu governo. O que pensa sobre a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes de decretar a prisão domiciliar do ex-presidente? Para mim, qualquer prisão é lamentável. Então, a do Bolsonaro também é.
Publicado em VEJA de 22 de agosto de 2025, edição nº 2958