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Sem apologia, ‘Legalize Já’ mostra a amizade que formou o Planet Hemp

Longa conta a história dos fundadores da banda, Marcelo D2 e Skunk

Por Lucas Almeida 18 out 2018, 11h20
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  • “Me chamam de marginal só por fumar minha erva”, diz o verso de Legalize Já, o primeiro hit do Planet Hemp, lançado oficialmente em 1995. O título da canção é usado agora para dar nome à cinebiografia que conta a história da amizade dos fundadores da banda de rap, Marcelo D2 e Skunk. Mas engana-se quem pensa que a bandeira em prol da legalização da maconha seja o fio condutor da trama.

    “O filme é sobre legalizar o amor, a saúde, a segurança, coisas que deveriam ser acessíveis e legais para todos, mas não são”, explica Ícaro Silva, que dá vida a Skunk na produção. “A maconha é um tabu para a gente começar a falar sobre as coisas que a hipocrisia nos impede de dizer”, afirma o ator de 31 anos, que já tinha interpretado Simonal no musical S’imbora.

    Com fotografia quase monocromática, o filme acompanha o encontro de D2 (interpretado por Renato Góes) e Luís Antonio (que adotou o nome de Skunk) no histórico bairro do Catete, na Zona Sul do Rio de Janeiro dos anos 1990, em um clima que reflete as heranças da recém finda ditadura militar, com forte repressão policial. As dificuldades causadas pela pobreza aproximam a dupla, que logo começa a criar raps, inspirada por grupos internacionais, como N.W.A. e Dead Kennedys. “Às vezes, eles nem tinham dinheiro para comprar a maconha, mas [a defesa da legalização] era uma forma de gritar algo que as pessoas iam ouvir. Depois disso, eles podiam falar sobre o que quisessem”, defende Renato Góes, que interpreta Marcelo D2.

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    Marcelo D2 ao lado de Renato Góes nos bastidores do filme ‘Legalize Já – Amizade Nunca Morre’ (Reprodução/Divulgação)
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    D2, como esperado, foi uma referência importante para o longa. O rapper contribuiu com as suas histórias para a criação do roteiro e também para a construção dos personagens. “Pensei em morar um tempo em São Cristóvão ou Madureira, que foi onde o Marcelo cresceu, mas ele me falou para ir para o Catete. Foi onde ele viveu a juventude, nesse período do rap”, explica Góes. “Morei em um prédio por lá durante dois meses e saia com o amigo dele, o Akira Presidente. Também trabalhei no camelódromo por uma iniciativa do nosso preparador de elenco, o Luiz Mario.”

    Criado em 1993, o Planet Hemp ainda contou com os rappers Rafael Crespo, BNegão, Formigão e Bacalhau. Apenas um ano depois da formação e com apenas uma demo gravada, o grupo quase se desfez com a morte de Skunk, após uma batalha contra a aids. A partir de 1995, com o lançamento do primeiro álbum, Usuário, o grupo começou a ganhar maior reconhecimento, o que se estendeu até 2003, quando anunciaram a separação.

    O longa evidencia as dificuldades enfrentadas por Marcelo D2, que vendia camisetas com estampas de bandas na rua para conseguir se sustentar, e por Skunk, que lidava com os efeitos colaterais do tratamento da aids. Sem grandes discursos políticos, entrega uma história de amor entre dois amigos, que marcou o rap nacional. “Esses jovens artistas dos anos 1990 conseguiram levantar bandeiras importantíssimas para toda a sociedade a partir da realidade deles”, analisa Ícaro Silva. “Hoje, conseguimos nos juntar e nos comunicar ainda mais rápido do que essa galera, que usava ficha no orelhão.”

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