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Série ‘The Mandalorian’ rejuvenesce a legião de fãs da saga ‘Star Wars’

Tremendo sucesso de público em todas as idades, a produção cumpre seu papel de renovar os grupos de quarentões que prestam reverência à história

Por Vinicius Novelli Atualizado em 4 jun 2024, 14h16 - Publicado em 22 jan 2021, 06h00

Os aficionados da sequência de filmes Guerra nas Estrelas, inaugurada no fim dos anos 1970, continuam firmes em sua devoção, mas convenhamos: a esta altura, boa parte da turma, sempre associada a adolescentes meio nerds, já está de cabelos grisalhos. Eis que, em pleno ano pandêmico, uma série novinha veio reacender e multiplicar o interesse planetário pelos personagens e batalhas que têm sua origem, segundo reza o livro sagrado de George Lucas, há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante. The Mandalorian, exibida na plataforma Disney+, foi lançada no fim do ano passado e, em novembro, teve sua segunda temporada alçada ao posto de série de streaming mais vista nos Estados Unidos.

Em memes, postagens em redes sociais e trocas de mensagens, o assunto é a saga do carismático caçador de recompensas Din Djarin para devolver aos Jedi, os monges com poderes telepáticos, The Child, um bebê alienígena que as hordas do mal querem sequestrar por motivos desconhecidos. Com seus olhos grandes e orelhas pontudas, ele é uma versão infantil (tem só 50 anos) do sábio mestre Yoda. Reunindo os celebrados poderes da Força, Baby Yoda, como ficou conhecido, conseguiu o feito de unir quarentões e crianças na frente da TV. “Foi meu pai que me atraiu para a série. Ele me mostrou o Baby Yoda e achei muito fofinho”, explica Cecília, 7 anos, que assiste aos episódios ao lado do pai, Felipe Zardo, 28 anos, técnico de informática em São Paulo.

Baby Yoda é, sem dúvida, o maior trunfo de Mandalorian, replicado infinitamente em bonecos (no Natal, houve falta na praça) e estampado em objetos de toda espécie. Mas a narrativa atual, relativamente simples, renovou o interesse geral pelo que se conhece por “universo expandido”, que vem a ser os livros, quadrinhos e jogos do bom e velho Star Wars. Nicollas Fonseca, 14 anos, morador do Rio de Janeiro que não só aderiu como cooptou o irmão Thiago, dez anos mais velho, e lançou um perfil no Instagram onde divulga brinquedos, memes e desenhos ligados ao novo hobby. “Quanto mais a série ganha popularidade, mais gente aparece para trocar informações”, diz Nicollas, que, como não podia deixar de ser, se tornou membro de carteirinha do Conselho Jedi, principal fã-clube de Star Wars no Brasil. Celebrando um avanço de 10% nas inscrições, e subindo, após longo período de apatia, o presidente do Conselho Jedi, Brian Moura, elogia a tacada da Disney — que comprou a franquia do diretor Lucas em 2012 — para renovar o título. “Ela deu uma nova cara à saga que agradou até aos mais puristas”, afirma.

Os números da audiência de The Mandalorian são tão espetaculares quanto as batalhas intergalácticas de Guerra nas Estrelas. É a série mais mencionada na internet, segundo levantamento da empresa Parrot Analytics, deixando para trás sucessos de público e de crítica como O Gambito da Rainha, da Net­flix. Tornou-se, da noite para o dia, a principal âncora do Disney+, novíssimo serviço com o qual a empresa de Mickey e Pato Donald se lança em outra guerra, esta contemporânea e ferrenha: a bilionária disputa pelo primeiro lugar no streaming. Transportado para a TV aberta, o sucesso se confirma — um episódio exibido pela Rede Globo em novembro arrebanhou 33 milhões de espectadores. “Achava Star Wars chato e estranho, mas hoje adoro”, elogia o estudante Rafael Dillier, 13 anos, que mora em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio. Embalada pelo fenômeno, a Disney lançou 170 produtos mandalorianos no Brasil, entre brinquedos, roupas, itens de decoração, livros e até motocicletas, e vendeu 750 000 deles entre novembro e janeiro.

A sequência original de Star Wars é até hoje a segunda franquia mais bem-sucedida da história do cinema, superada apenas pelos super-heróis da Marvel, mas vinha perdendo rapidamente o encanto, à medida que os fãs envelheciam e sentiam que a história, de tanto ser repetida, começava a se desvirtuar. “Uma das maiores queixas em relação às últimas produções era a falta de clareza sobre os rumos da história e dos personagens”, diz Robert Thompson, especialista em cultura pop da Universidade Syracuse, no estado de Nova York. Ao transferir a trama para outro período, bem anterior, com novos personagens, The Mandalorian conseguiu fazer o fascínio renascer. Para 2021, a Disney+ planeja dois filmes e oito séries derivados de Star Wars, inclusive spin-­offs da trama com Baby Yoda. Preparem as naves.

Publicado em VEJA de 27 de janeiro de 2021, edição nº 2722

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