Neil Gaiman: “Sou um agnóstico entusiasta”
O escritor Neil Gaiman fala sobre religião, a boa fase na TV e a amizade com Terry Pratchett, parceiro de escrita
Por que dar uma voz feminina a Deus? Queria que Deus fosse alguém confiável e crível. Foi quando pensei em Frances McDormand, que tem a voz de um Deus em que eu acreditaria. E é uma trama com muitos homens, achei que seria bom balancear.
O senhor acredita em Deus? Sou um agnóstico entusiasta. Não tenho a menor ideia se Deus existe, nem anjos ou demônios. Os deuses gregos existiram? E os nórdicos? Fadas? Como escritor, deixo as portas abertas.
O diretor Terry Gilliam quis adaptar Good Omens, mas a ideia não vingou. Por que agora deu certo? Era preciso uma plataforma como a Amazon para investir, e tecnologia para os efeitos. Também precisávamos esperar que David Tennant ficasse mais velho para lhe oferecer o papel.
Os protagonistas representam, de alguma forma, sua amizade com Terry Pratchett? Sim. Criei Crowley, o demônio, mas Terry adicionou características minhas, como usar óculos escuros quando não são necessários ou vestir sempre preto. Eu estava desesperado para parecer descolado. Tinha 26 anos quando comecei o livro, e Terry era doze anos mais velho, então ele se divertia com minhas bobagens. Mas nossa amizade está refletida nas várias relações do livro. Desde a inocência das crianças até a loucura dos caçadores de bruxas.
Como compara Good Omens com American Gods e Lúcifer? Lúcifer foi como ter um lance com alguém e um dia essa pessoa voltar e dizer: este é seu filho. Você vê e fica confuso. American Gods é como ficar longe de um filho, voltar e encontrar um adolescente tatuado com um cabelo que você não entende. Já Good Omens é meu bebê e ainda tenho controle sobre seu corte de cabelo.
Publicado em VEJA de 5 de junho de 2019, edição nº 2637
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