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‘Temos vivido o caos nos EUA de Trump’, diz Will Butler, do Arcade Fire

Em entrevista a VEJA, o músico fala sobre o novo disco solo, 'Generations', o mais político de sua carreira, e o que esperar do próximo álbum da banda

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 ago 2020, 11h49 - Publicado em 26 ago 2020, 11h38
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  • A música é uma tradição de longa data na família dos irmãos Butler. Juntos, os texanos Will, 37 anos, e Win Butler, 40, (e sua esposa, a canadense Régine Chassagne) fundaram a banda de indie rock Arcade Fire. Mesmo quando o grupo não está em turnê ou lançando novos discos, seus integrantes continuam ativos, ou produzindo música de forma individual, ou envolvidos com ativismo social. Destas ações paralelas, nasce o novo trabalho solo do irmão mais novo, o multi-instrumentista e cantor Will, que lançará no dia 25 de setembro o álbum Generations.

    O disco chega cinco anos após seu primeiro solo, o elogiado Policy. Neste intervalo, Will voltou a estudar e concluiu um mestrado em políticas públicas, na prestigiosa Harvard. Ciente da sua influência como celebridade, ele tem se posicionado contra o preconceito racial e criticado o presidente Donald Trump. “Não sou uma grande celebridade, mas sou uma figura pública e como tal, eu quero agir”, disse em entrevista a VEJA por telefone.

    Will falou também sobre o próximo disco do Arcade Fire, em produção atualmente. “Quando conseguirmos nos reunir de novo, ele vai sair bem rápido. Estou bastante esperançoso” afirmou. A seguir, os principais trechos da entrevista.

    Lead Press Photo_credit Will Butler
    O cantor Will Butler, do Arcade Fire, que lança novo disco solo (//Divulgação)

    O Arcade Fire é uma banda familiar e as composições são feitas em comum acordo com o grupo. Um disco solo é a chance de expressar sua individualidade? Sim. Eu fiz meu primeiro álbum solo, Policy, para encontrar os sons que não se encaixavam no Arcade Fire. Sentia que eram músicas que valiam a pena serem gravadas, com uma nova emoção. Normalmente, se vale a pena ser gravado, entraria no Arcade Fire, mas no trabalho solo é como se existissem novos mundos e regras.

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    As canções, porém, ainda mostram um DNA do Arcade Fire. A ideia era essa? Eu acho que sim. Faz sentido. Essencialmente, tudo vem do mesmo lugar. Contei com a ajuda de amigos e também da minha esposa, Jenny, que participou das gravações.

    Por que a escolha do nome Generations? Existem dois significados paralelos que eu pensei neste título. Um é que sou descendente de uma geração de músicos. Meu bisavô começou uma banda familiar na década de 1880, em Utah, nos Estados Unidos. Ele fez seus filhos entrarem nessa banda. E, agora, os filhos de seus filhos também estão em uma banda. Não é uma coincidência que também sejamos músicos. Há uma linda herança. Também é algo que nos assombra, já que uma decisão tomada anos atrás ainda seja mantida de maneira tão concreta. No álbum, eu quis explorar esse lado pessoal e também o lado político. É aí que entra o outro significado. Eu estava pensando na minha geração, dos millennials. Tenho visto pessoas mais jovens do que eu e me sinto como um cara do século XX no século XXI. Quis explorar esse sentimento.

    A música que eu faço emerge da vida que eu vivo. E eu quero entender melhor que vida é essa. O mestrado em políticas públicas serviu para esse aprendizado.

    Will Butler, do Arcade Fire
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    Como foram as gravações deste álbum? Eu tenho um estúdio no meu porão. Tecnicamente consigo fazer tudo lá e o som é incrível. Me sinto confortável gravando neste ambiente. Então eu chamei a minha banda. Nós tocamos alguns shows ao vivo no ano passado. Depois, passamos uma semana aqui em casa tocando juntos até o som sair de verdade e não parecer que estávamos apenas ensaiando.

    Este álbum é bem político. Como seu mestrado em políticas públicas se encaixou neste processo criativo? Estamos em uma era louca da política. Muitas composições surgiram após a eleição de Donald Trump, que criou um louco ensopado político nos Estados Unidos e no mundo. Temos vivido o caos nos Estados Unidos comandado por Trump e, definitivamente, isso está presente na minha música. A música que eu faço emerge da vida que eu vivo. E eu quero entender melhor que vida é essa. O mestrado em políticas públicas serviu para esse aprendizado.

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    O clipe Surrender fala sobre a morte de George Floyd e de Breonna Taylor, nomes que reacenderam protestos antirracistas nos Estados Unidos. Por que decidiu tocar neste assunto? Quero promover questionamentos. O primeiro é: como nós chegamos a esse ponto? E o segundo: para onde vamos a partir de agora? Se não entendermos como chegamos até aqui, se não conhecermos nossa história política, cultural e social e os motivos pelos quais estamos nesta bagunça, vai ser bem difícil lutar contra preconceitos. Não é impossível, mas vai dar muito trabalho para caminharmos adiante e corrigirmos esses erros terríveis. Precisamos ouvir quem sofre racismo para entendermos o que estamos fazendo. Ouvir, leva tempo. Em um nível pessoal, é importante entender até que ponto eu sou privilegiado e as dimensões desse poder. Eu sou uma pessoa relativamente rica e parte do poder é saber usar o dinheiro para mudar o que me incomoda no mundo.

    Acredita que o mundo sairá melhor do que quando entrou na pandemia? Não sei o que vai acontecer. Eu me surpreendo a cada mês. A cada mês sinto que estamos deixando as coisas piores. É difícil dizer que é algo apocalíptico, algo como uma segunda grande depressão. Eu espero sempre o melhor. Mas, muitos amigos estão desempregados. Agora, estamos no verão nos Estados Unidos. As pessoas estão começando a sair de casa com máscaras. Mas, o que será que vai acontecer no outono? As coisas ficarão sombrias novamente? Ninguém sabe.

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    Arcade Fire está produzindo um novo álbum. O que pode falar sobre o novo trabalho? Sempre levamos um ano e meio, em média, para gravar. Bizarramente, nós não estamos atrasados com as gravações. Agora, queremos nos reunir novamente e quando conseguirmos, acho que as coisas vão andar rápido. Não trabalhamos muito bem via Zoom. Régine está sempre fazendo demos enquanto estamos espalhados em outros lugares. Estou confiante.

    O baterista Jeremy Gara também está lançando um novo trabalho solo. Já ouviu o que ele produziu? Ainda não. Eu costumo gostar do que ele produz. Somos a mesma banda e parte da graça de ter uma banda é gostar da música que todos fazem. É divertido ver o que cada um de nós faz em trabalho solo. É uma maneira de cada um brilhar.

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