Aos 75 anos, a passagem do tempo a aflige? Não me aflige, mas significa que estamos perto de partir deste mundo. Eu adoro a vida, ela é preciosa. É um milagre. Quero viver muito. Não me sinto velha: tenho uma alma jovem. De repente, eu me percebo com 75 anos como um susto. Mas um susto no bom sentido.
De Maria Bethânia a Gilberto Gil, muitos artistas da sua geração continuam ativos. Qual é o segredo dessa turma? Não tem muito segredo. Mas não posso falar pelos outros. Eu continuo pelo meu amor à profissão. Adoro o que faço, e a música me torna melhor, me alimenta.
Os artistas da Tropicália cantavam contra a ditadura militar. Essa mensagem ainda é capaz de tocar as novas gerações? A arte é a identidade de um povo. O desejo de algumas pessoas de que o Brasil volte a ser uma ditadura é um absurdo. A música tem força, sim, para lutar contra as injustiças do mundo.
Vozes radicais, inclusive dentro do governo, já enalteceram a ditadura. A senhora teme a volta do autoritarismo? Eu fico preocupada, mas acho que a gente tem uma democracia bem estabelecida. A democracia é mais forte.
Gabriel, seu filho, está com 15 anos. A senhora canta para ele em casa? Sou louca por ele. Quando Gabriel era pequenininho, eu cantava canções do Caymmi para ele dormir. Ele não pensa em ser cantor, não. Está estudando e seguindo a vida dele.
Sua voz continua firme e forte. Como cuida dela? Eu não tomo nada gelado e há anos parei de beber álcool. Bebia na juventude, mas creio que a bebida tira nossa vitalidade. Eu nasci para cantar. Desde criança, já sabia que esse seria o meu caminho. É uma coisa que está ligada à minha energia e à minha essência.
Publicado em VEJA de 17 de fevereiro de 2021, edição nº 2725