‘The Lost City of Z’ desvenda a beleza da Floresta Amazônica
Filme baseia-se na história das expedições de Percy Fawcett à fronteira do Brasil e Bolívia, onde se convenceu da existência de uma civilização avançada
Em 1906, o militar britânico Percy Fawcett (Charlie Hunnam) foi convocado pela Real Sociedade Geográfica e embrenhou-se na Floresta Amazônica para estabelecer a fronteira entre Brasil e Bolívia, alvo de disputa entre os dois países. À medida que o tempo passava, convenceu-se da existência de uma cidade construída por uma civilização avançada na região. A história, contada pelo jornalista David Grann no livro The Lost City of Z (lançado no Brasil como Z, a Cidade Perdida), virou o filme de mesmo nome, exibido na seção Berlinale Especial, durante o 67º Festival de Berlim. A direção é de James Gray, conhecido por produções como Os Donos da Noite (2007), sobre um policial que investiga o irmão, e Amantes (2008), sobre um homem problemático dividido entre duas mulheres. Não era a escolha mais óbvia, portanto.
Mas Gray traz a mesma elegância de seus trabalhos anteriores, com ajuda do diretor de fotografia Darius Khondji (Amor, Meia-Noite em Paris). O longa-metragem foi rodado em película 35 mm, o que deu menos mobilidade e mais dores de cabeça à produção, rodada na Colômbia – o filme era mandado para revelação e só dava para assistir vários dias depois. Teve gente picada por cobras e ator que ficou com um besouro entalado no ouvido.
Produzido pela Plan B de Brad Pitt, The Lost City of Z também passou por um périplo antes de chegar às telas. Foram seis anos de pré-produção, com Brad Pitt e depois Benedict Cumberbatch escalados para fazer Fawcett. O papel acabou nas mãos de Hunnam, conhecido pela série Sons of Anarchy e por Círculo de Fogo. No filme, frustrado com a falta de promoção no Exército, Fawcett fica animado com as perspectivas que a expedição abre em sua carreira, mesmo tendo de deixar para trás a mulher Nina (Sienna Miller) e o filho, ainda bebê, para passar dois anos na mata. Seu principal parceiro na viagem é o cientista Henry Costin (Robert Pattinson, irreconhecível com chapéu enterrado na cabeça, óculos e barba grande).
A jornada enfrenta todo tipo de desafio, dos esperados animais selvagens ao descobrimento de artefatos cerâmicos antigos sofisticados, algo inimaginável para os cientistas britânicos, convencidos de que ali só viviam selvagens. Fawcett também tem contato com alguns grupos indígenas – não faltam cenas de deslumbramento com sua cultura.
Fawcett convence-se da existência de Z, uma civilização perdida na floresta. Ele ainda lutaria na Primeira Gurra Mundial e voltaria duas vezes à Amazônia, na última delas acompanhado pelo filho, com quem desapareceu misteriosamente na floresta em 1925.
Gray mostra muito bem como Fawcett, que possivelmente inspirou a criação do personagem Indiana Jones, vai sendo dominado por sua paixão e por sua determinação em encontrar aquilo que está convencido de existir. Ao mesmo tempo, o filme coloca bastante ênfase em como questões de classe, gênero e raça eram – e são – importantes. Fawcett não via os índios amazônicos como primitivos, mas como donos de uma cultura diferente da Europa Ocidental. E se preocupava em provar para a comunidade científica que “somos todos feitos do mesmo barro”. É uma mensagem poderosa ainda hoje.