O senhor ouviu Million Years Ago pela primeira vez há quase três anos. Por que só agora decidiu processar Adele pelo plágio da música Mulheres? As provas que reunimos são cabais. Vulgarmente falando, é batom na cueca. Não conhecia muito da Adele. Mas, quando ouvi a música, notei que era um evidente plágio. Insisto que em nenhum momento quis expô-la. Acho que nós, artistas, temos de nos preservar. Todos os contatos que tentamos, inclusive com uma notificação extrajudicial, não deram em nada.
Por que entrou com o processo no Brasil? Devido à dificuldade que é fazer lá fora. Pedimos indenização de 1 milhão de reais para Sony e Universal, que têm sede no Brasil, contra o produtor e o coautor Greg Kurstin e, claro, a própria Adele.
O senhor também entrou na Justiça para rescindir seu contrato com a Universal. Ela não ficou a seu lado? Percebi um conflito de interesses e uma má vontade. Acho que há até um pouco de preconceito dos gringos, porque eles não acreditam que possamos ter um tribunal que vá julgar com dignidade. Confio na Justiça brasileira. Se fosse lá fora, eu teria muito mais receio.
De onde veio a inspiração para compor Mulheres? Acordei, acendi um cigarro — hoje não fumo mais —, fiz o café e fui procurar o telefone de um empresário. Quando abri a gaveta, vi fotos de ex-namoradas e pensei: “Já tive mulheres de todas as cores, de várias idades”. O resto é história. Inclusive, é uma música que pode ser cantada de uma mulher para outra mulher.
Por que casos de plágio envolvendo brasileiros, como Jorge Ben Jor contra Rod Stewart, recebem pouca atenção no exterior? Quando é o contrário, eles se manifestam rapidamente. Mas, quando é uma acusação de fora, protegem seus interesses. Muitos brasileiros são lesados porque não têm coragem de encarar. Esse meu processo é uma forma também de incentivar outros brasileiros que foram plagiados.
O brasileiro é mais criativo musicalmente? Os gringos já têm as músicas deles, mas, quando querem dar uma “pitada” diferente, procuram a música brasileira, porque nosso país é muito miscigenado — o que gera ritmos, melodias e letras fantásticas. Nem a palavra “saudade” eles têm no dicionário.
Quais serão suas próximas composições? Eu sou mineiro e estou disputando para ser um dos compositores do samba-enredo da Portela — que, no desfile de Carnaval do ano que vem, vai homenagear o grande Milton Nascimento. E eu o idolatro.
Publicado em VEJA de 19 de julho de 2024, edição nº 2902