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Tony Bellotto: ‘Censurar livros é fascismo’

Guitarrista dos Titãs fala de seu mais novo lançamento na carreira de escritor e critica a recente tentativa de proibir uma obra de Ziraldo em escolas

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 jul 2024, 10h29 - Publicado em 6 jul 2024, 08h00

Na quarta-feira 10, sai seu 11º livro, Vento em Setembro (Companhia das Letras), um suspense ambientado em uma pequena cidade. Como a história surgiu? É um livro que fala sobre a busca de identidade. Coloquei muita coisa ali que vi acontecer. Lembro da minha adolescência, no interior de São Paulo, onde se organizavam orgias para celebrar a iniciação sexual dos filhos com prostitutas. Aquilo me chocava e coloquei isso na história.

Seus romances são sempre suspenses de teor policial. De onde veio o interesse pelo gênero? Gosto da ideia do enigma. A essência do romance policial é o desvendar do enigma. É o clássico: mostra o cadáver na primeira página e o culpado na última, com o detetive tentando descobrir ao longo do livro. Trabalho muito com isso no novo romance. Sempre me inspirei no escritor belga Georges Simenon, e meus escritos têm essa aura policial da investigação.

Ano que vem, você celebra trinta anos do lançamento de seu primeiro livro, Bellini e a Esfinge. O processo criativo de escrever um romance e de compor uma música nos Titãs é o mesmo? O impulso inicial é parecido. Tinha a vontade de escrever profissionalmente desde a adolescência e, aos 33, acabei lançando meu primeiro romance. Mas era meu sonho também ser guitarrista de rock. Sempre exercitei as duas coisas. A música se aproxima mais da métrica de uma poesia. Nos romances, a prosa é caudalosa. Gosto de alternar essas duas vertentes criativas. Convivi um pouco com Rubem Fonseca, e ele me deu muitos conselhos objetivos sobre escrita.

Que tipo de conselhos? Um que nunca esqueci foi este: “Um livro pode ser tudo, menos chato”. Ele me ensinou ainda que, quando você começa a escrever um livro, não pode parar, como acontece comigo quando estou no meio de uma turnê. Ele dizia ser preciso retomar a escrita do livro pelo menos uma vez por semana, para não deixar a história desandar. Além de outras dicas, como ser claro na escrita. Ele dizia que você pode ser enigmático, mas nunca deve ser obscuro.

Recentemente, uma cidade mineira proibiu que o livro O Menino Marrom, de Ziraldo, fosse usado nas salas de aula — decisão revertida pela Justiça. Como escritor, qual sua opinião a respeito do episódio? É terrível. Censurar livro é uma coisa do mais radical fascismo ou nazismo. Livro é expressão da liberdade. Essa censura por questão moral é hipocrisia, às vezes disfarçada de moral religiosa. É inaceitável. Temos de ficar atentos a isso. O mesmo ocorreu com o livro de Jeferson Tenório, no Rio Grande do Sul. Meu livro também é uma forma de mostrar minha indignação.

Publicado em VEJA de 5 de julho de 2024, edição nº 2900

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