Em 1970, um ano após o lançamento de Civilisation, Kenneth Clark (1903-1983) foi homenageado em Washington. O sucesso da série não foi menor na televisão americana do que havia sido na Inglaterra: a National Gallery estava cheia de gente para ver esse historiador da arte, diretor de museu, professor universitário, escritor e apresentador britânico, com seu ar aristocrático. Impressionado com o impacto que a série tinha causado naquelas pessoas, Clark contou mais tarde que mal conseguiu conter as lágrimas, pois percebera como o público esperava respostas para perguntas muito cruciais — sobre o sentido da arte e da cultura em tempos de incerteza. Clark sentia-se um impostor por não ter essas respostas. Mas ele era tudo, menos um impostor: filho único de uma família abastada, foi o mais jovem diretor do Ashmolean Museum (28 anos) e da National Gallery de Londres (30 anos), realizando um espetacular trabalho de proteção do acervo durante a II Guerra, período em que ainda apoiou a produção de artistas como Henry Moore. Abandonou a carreira em Oxford para ser o primeiro diretor da ITV, pioneira rede de televisão comercial na Inglaterra. Foi quando a BBC 2, então dirigida por David Attenborough, decidiu fazer sua estreia na transmissão em cores que a fama de Clark chegou a outro patamar: Civilisation, o ambicioso projeto de treze episódios cobrindo mais de 1 000 anos de história, com ênfase na arte, foi um triunfo de beleza — e popularidade: em toda a Inglaterra, faziam-se festas para ver o programa. Clark foi homenageado com uma exposição na Tate Britain em 2014 e ganhou uma excelente biografia assinada por James Stourton em 2016, mas é a produção de Civilisations, o novo documentário da BBC, que talvez lhe preste a maior reverência de todas.
Publicado em VEJA de 26 de junho de 2019, edição nº 2640
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