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Vladimir Brichta: “Não daremos munição para discurso truculento”

Em cartaz como o policial Machado no filme 'Alemão 2', ator fala a VEJA sobre a sequência do sucesso de 2014, e opina sobre segurança pública

Por Amanda Capuano 31 mar 2022, 09h39

Uma equipe de policiais sobe o morro para capturar o chefe do tráfico. Quando a operação dá errado, o grupo se vê perdido na favela, em desvantagem numérica e geográfica em relação aos criminosos, que conhecem a área como ninguém. A premissa não é longe da realidade brasileira, mas foi vertida em ficção no longa Alemão 2, lançado nos cinemas nessa quinta-feira, 31. No comando da operação, Machado, um policial sistemático interpretado com brio por Vladimir Brichta, conduz os companheiros de farda Freitas (Leandra Leal) e Ciro (Gabriel Leone) morro acima para capturar Soldado (Digão Ribeiro). Encurralados no local, eles transitam pelas casas e entram em conflito direto com bandidos em pressões eletrizantes.

Típico filme de ação, o longa usa a incursão dos policiais no morro para pincelar a vida dos moradores da comunidade, mostrados ali como as maiores vítimas do conflito entre policiais e bandidos – que se alternam no papel de executores da violência. Com uma veia realista, o filme rompe com os estereótipos de mocinho e vilão, mostrando a linha tênue que separa líderes do tráfico das milícias, expondo os efeitos da violência não apenas sobre a população local, mas também sobre os policiais, que assumem aqui papeis diversos, da jovem idealista ao soldado truculento. Em entrevista a VEJA, Brichta comentou sobre o longa e a relação da trama com o Brasil de hoje. Confira:

O que o motivou fazer um filme que aborda a temática da violência? Topei fazer o filme para ajudar de alguma forma. Eu sou um ator, e a minha função é atuar. É dessa forma que eu posso participar da discussão sobre segurança pública, um assunto que está cada vez mais em voga, porque são vidas em jogo. Acho que, quando falamos de segurança pública, precisamo falar também de educação, de saneamento básico. 

Você é mineiro, mas mora no Rio de Janeiro. Como enxerga a violência na cidade? Quando cheguei aqui pela primeira vez, eu tive medo do Rio de Janeiro. Lembro de fazer uma escala no Galeão e pensar, de dentro do avião, que aquele era um lugar perigoso. Depois de duas décadas, vejo que o Rio tem sua carga de problemas vindos do abandono do estado, mas isso acontece em todas as grandes cidades do país, que tem um nível alto de desigualdades. O Rio não se difere muito de outras grandes capitais. 

Você citou a questão da desigualdade social. Acha que quem vive nas áreas nobres tem noção do que acontece no morro? Ainda falta muito entendimento. O ser humano tem dificuldade de olhar para aquilo que não o atinge diretamente. A guerra na Ucrânia chama atenção porque aumenta o preço do combustível, do pão. Isso não acontece com a guerra na Síria, então ficamos menos atentos a ela. Tendemos a ignorar as coisas enquanto elas não estão perto e a arte, de certa forma, ajuda a criar empatia.

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Tropa de Elite foi um filme feito, idealmente, para expor a truculência e a corrupção da polícia, mas parte do público acabou endossando as ações do BOP e idolatrando o Capitão Nascimento. Acha que isso pode acontecer com Alemão 2? São filmes distintos e o risco disso é mínimo. Falando sobre o Tropa, havia uma atuação muito forte da polícia, com a narração do Capitão Nascimento, feito brilhantemente pelo meu amigo Wagner Moura, que é um ator tão carismático e talentoso que parece que o discurso do filme é o discurso desse personagem. De alguma forma, isso acabou legitimando as atitudes do personagem. No caso de Alemão, é um protagonismo um pouco diferente, para que se perceba que o discurso não é tornar heroico nem o policial e muito menos o traficante. Não consigo achar que daremos munição para um discurso truculento. 

Falando em truculência, figuras da política como o ex-governador Wilson Witzel e o Bolsonaro incentivaram esse tipo de ação por parte da polícia e até das pessoas comuns. O filme pode ajudar nisso? De fato, é um momento complicado. Sou totalmente contra esse discurso e o estímulo perigoso que temos tido à compra de armas. É uma política do discurso da morte e do extermínio. Isso não dá certo em lugar nenhum. É estímulo à guerra, e a única coisa boa na guerra é o momento em que ela acaba. O filme deixa isso claro. 

Você também está no ar na novela das 7, Quanto Mais Vida Melhor. Como enxerga o papel do cinema e da TV na discussão de temas sociais? Tem cada vez menos diferença. Há várias séries produzidas para a televisão ou para o streaming sobre segurança pública. Na novela existe uma linguagem que funciona com o público cativo e a faixa de horário. Eu fiz a série Justiça, que falava também sobre segurança pública de um jeito muito maduro. Já a novela é uma comédia, e daquelas bem doidas, com troca de corpos e tudo. É uma linguagem bem diferente do realismo do cinema, mas depende muito da faixa de horário.

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