BRUNA MARQUEZINE
Instagram: 35,4 milhões de seguidores
Salário na Globo: 200 000 reais por mês
Valor do post: De 120 000 a 150 000 reais
E no princípio era o verbo — ou melhor, era a fama pura e simples, alimentada pela presença nas novelas da Globo. E lá na pré-história (e a pré-história dos tempos de internet foi ontem mesmo) não havia sucesso ou autógrafo que nascesse longe da notoriedade na televisão. Ninguém era chamado para festas vips (dar um “oi” e zarpar em menos de duas horas) ou para anúncios comerciais se estivesse fora das telas. Bem-vindo aos novos tempos, produto das redes sociais, das onipresentes selfies. Atriz? Ator? O nome da profissão agora é outro: influencer, ou influenciador, mas há quem ache que em inglês fica mais altivo. Basta ter uma conta nas redes sociais, preferencialmente no Instagram, atrair milhares, milhões de fiéis seguidores e cobrar pela postagem. A receita é simples, e o bolo cresce que é uma barbaridade: Bruna Marquezine, a ex de Neymar, por exemplo, chegou a ganhar 200 000 reais por mês durante a gravação de uma novela — mas, num único post em que cita um produto, um evento, uma loja, ela pode receber mais de 150 000 reais. Não raro, consegue 1 milhão de reais mensais. Marina Ruy Barbosa vai no mesmo ritmo. Há dezenas de exemplos (veja os principais ao longo desta reportagem) para demonstrar a fenomenal virada.
A televisão ainda é muito forte, evidentemente, mas vem perdendo a primazia. O mercado publicitário percebeu a onda precocemente e não demorou a entrar no jogo. Só neste ano, segundo o levantamento Latin America AdSpending, da consultoria eMarketer, o Brasil receberá 4,5 bilhões de dólares em marketing digital, este que é coalhado de influenciadores — ops, influencers. “Nenhum anunciante senta à mesa sem falar da estratégia de divulgação em redes sociais”, diz Marco Aurélio Giannelli, conhecido como Pernil, diretor de criação da AlmapBBDO.
MARINA RUY BARBOSA
Instagram: 32,3 milhões de seguidores
Salário na Globo: 200 000 reais por mês
Valor do post: 150 000 reais
Na gênese desse fenômeno, os famosos analógicos ficaram espantados com as cifras de gente digital como Whindersson Nunes, o humorista criado no YouTube que hoje fatura 3 milhões de reais por mês com shows e propagandas. Se ele, que não passou pela Globo, podia ser tão grande, por que não os famosos de pedigree reconhecido? O salto extraordinário deu-se em 2016, com o Stories, a ferramenta do Instagram que permite a publicação e a viralização de vídeos breves. A chance de colar ao filminho o link da página dos anunciantes, que conseguiam medir com precisão quanto um post poderia gerar de vendas imediatas, foi como um abracadabra. Some-se um dado — segundo o IBGE, 93,2% dos lares brasileiros têm ao menos um celular com acesso à internet —, e eis o caldo da nova cultura da civilização moderna.
Há segredos de polichinelo no ofício de influenciador: é preciso mostrar intimidade com o público e produzir conteúdo que pareça ser espontâneo, sem vínculo com o que se quer vender. Daí a profusão de viagens a lugares incríveis, festas espetaculares e amigos queridíssimos ainda mais badalados. É tudo pensado para atrair curtidas, a régua pela qual se medem as metas.
CAIO CASTRO
Instagram: 17 milhões de seguidores
Salário na Globo: 80 000 reais por mês
Valor do post: 50 000 a 100 000 reais
Rapidamente, as negociações de postagens ganharam novas dimensões, e com o crescimento vieram os problemas. No mais recente Carnaval, Bruna Marquezine fechou um contrato de 800 000 reais com a Uber. A entrega: dois posts associados a uma série de Stories durante a folia. Uns drinques a mais aqui e ali, ela acabou publicando foto na garupa de um mototáxi qualquer em Salvador — imagem que realmente atraiu a atenção pública. Levou bronca da empresa que a contratara. O caldo entornou, e dificilmente ela voltará a dar as mãos para a Uber. Além disso, depois de ver Neymar com Anitta na Sapucaí, a atriz ainda tirou sua conta do ar — por alguns dias. Ela costuma dizer que adora ser atriz, mas dentro do Projac é sabido (e visto) que seu coração bate mesmo é por um smartphone. Dizem, nos bastidores, que ela tem relutado em protagonizar a novela das 9 Amor de Mãe, com lançamento previsto para o fim de 2019. O motivo: avalia poder ganhar mais dinheiro e fãs nas redes sociais. Marina Ruy Barbosa também já avisou: depois de O Sétimo Guardião, a atual novela das 9, quer ficar distante da tela. Vai para a telinha.
É encanto que engloba diferentes faixas etárias. Em 2017, então com 40 anos, o jornalista Evaristo Costa deixou a bancada do Jornal Hoje com salário de 70 000 reais para se jogar de cabeça e selfie no novo trabalho. Um único post dele equivale ao antigo salário. Caio Castro, galã de primeiro time da Globo, adora a liberdade proporcionada por seu contrato por obra — tem a agenda livre para faturar. Médicos, empresários e estilistas seguem toada parecida. Há o caso de um dentista com 1,7 milhão de seguidores que faz propaganda de carro alemão.
EVARISTO COSTA
Instagram: 7,4 milhões de seguidores
Salário na Globo: 70 000 reais (saiu em 2017)
Valor do post: 50 000 a 70 000 reais
O maior exemplo de faturamento mundial é a influenciadora Kylie Jenner. Aos 21 anos, a irmã de Kim Kardashian embolsa 1 milhão de dólares por um único post, o mais caro do globo. O segredo dela: postar selfie em escala industrial, fazer poses sexy e expor sua intimidade sem parcimônia. “Os artistas sabem que suas histórias pessoais despertam mais interesse de seguidores e da imprensa do que o trabalho que exercem”, avalia Pedro Tourinho, sócio da agência MAP Brasil e empresário de famosos como Anitta e Bruno Gagliasso, que lançará em agosto o livro Eu, Eu Mesmo e Minha Selfie — Como Cuidar da Própria Imagem no Caos do Século XXI.
KYLIE JENNER
Instagram: 133 milhões de seguidores
Valor do post: 1 milhão de dólares
Empresário artístico e gestor de imagem, Ike Cruz se preocupa com a geração mais jovem de atores. Ansiosos pelos likes e por faturar no mundo digital, eles esquecem de estudar. “Eu sempre digo: uma blogueira não pode ser atriz, mas uma atriz pode ser blogueira”, avisa. O risco, ele aponta, é o vício de a postagem obsessiva ficar nisso mesmo e em muito dinheiro, mas sem atalho para outros voos profissionais. Mas algo é inegável: a avalanche das redes sociais tem o mérito de ter mostrado com clareza algo que os artistas negavam. A maioria se queixava dos paparazzi, da invasão de privacidade. Com o advento do Instagram, eles próprios expõem a intimidade — de forma editada, filtrada e legendada sem interferência externa. São paparazzi de si mesmos. “E ninguém mais se queixa de violação de intimidade”, diz Cruz. Isso sim é que é influenciar o humor das novas gerações.
Publicado em VEJA de 8 de maio de 2019, edição nº 2633
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