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Zé Celso, do Oficina, critica João Doria: ‘Fez jogo dúbio comigo’

Diretor acusa prefeitura e Estado de entregar patrimônio público a construtoras em troca de apoio na campanha eleitoral de 2018

Por Maria Carolina Maia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 dez 2017, 12h32 - Publicado em 2 dez 2017, 16h23

O conflito de interesses entre o empresário e apresentador Silvio Santos e o Teatro Oficina terá um momento decisivo na próxima segunda-feira, com a votação, pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo), de recurso da Sisan, braço imobiliário do Grupo Silvio Santos, que pede aval para erguer torres residenciais de mais de cem metros de altura nos terrenos em volta do teatro.

José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, ator e diretor do Oficina, se diz “preocupado” com a votação. Depois de uma primeira reunião do Conpresp, na última segunda, anulada pela Justiça por correr sem a participação de um membro do IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil), e da publicação de uma matéria da revista EXAME sobre a orientação “para liberar geral” que estaria regendo hoje os órgãos que deveriam defender o patrimônio público, ele diz ter chegado à conclusão de que foi enrolado pelo prefeito João Doria Jr. O Conpresp é ligado à Prefeitura de São Paulo.

Doria se ofereceu para mediar o conflito entre o Oficina e Silvio Santos e, em um encontro realizado em agosto na sede do SBT, propôs o que entende como uma solução intermediária, a construção de um “mall cultural”, com unidades residenciais e comerciais, no local. “Na América, tem muito”, disse na ocasião. A proposta voltou a ser ouvida por Zé Celso na reunião anulada pela Justiça na segunda-feira passada, e da boca do presidente do órgão, o engenheiro Cyro Laurenza. Ele também teria sugerido a Zé Celso que se mudasse para um outro terreno, abrindo mão do projeto de Lina Bo Bardi – essa mesma sugestão foi dada, na reunião no SBT, por Guilherme Stoliar, sobrinho e braço direito de Silvio Santos.

“O presidente do Conpresp se portou como corretor do Silvio Santos”, diz Zé Celso, que afirma ter perdido a confiança no prefeito paulistano depois de segunda-feira. “Doria jogou um jogo dúbio comigo. Foi muito gentil na reunião de agosto, muito bem, mas é ele o responsável pelo que está acontecendo com o patrimônio público da cidade de São Paulo. Estão entregando tudo à especulação imobiliária.”

Para o diretor, tanto Doria quando Geraldo Alckmin, governador paulista que é pré-candidato à Presidência da República, estão “sacrificando o patrimônio da cidade” em troca de apoio na campanha eleitoral de 2018. “Isso para mim surgiu com clareza absoluta, estão agindo em função do eleitorado deles”, diz. “Por interesse eleitoreiro, estão entregando o bairro do Bexiga, o Oficina e o TBC. Precisam dos empresários apoiando as suas candidaturas.”

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Segundo Zé Celso, a mudança na composição dos conselheiros do Conpresp, na atual gestão, converteu o conselho de defesa do patrimônio em “conselho da especulação imobiliária”.

“A política não é um negócio. É negociação, entre um lado e outro. Nem os militares ousaram assim contra a cultura.”

 

Posicionamento da prefeitura

Por e-mail, a assessoria de imprensa da prefeitura respondeu à fala de Zé Celso.

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“A afirmação do ator e diretor Jose Celso Martinez Correia de que o prefeito João Doria o teria “enrolado” não teve esperada contraposição. O prefeito tentou promover uma solução negociada. Nada mais que isso. As declarações também emitidas pelo ator-diretor de que o presidente do CONPRESP agiu como corretor do grupo SISAN na reunião pública do CONPRESP são graves e atentam contra a reputação de um profissional que lida com questões urbanas há mais de 50 anos.  

Esclarecemos que não havia representante do IAB -Instituto dos Arquitetos –SP na reunião do último 27/11 do CONPRESP, porque os antigos representantes, titular e suplente, renunciaram, e os novos indicados pela entidade não haviam se apresentado até aquele momento.

Reiteramos que toda esta negociação que envolve o Teatro Oficina e o terreno privado contíguo do apresentador Silvio Santos está sendo feita abertamente, com acompanhamento de arquitetos e advogados ligados às duas partes e que as reuniões do CONPRESP são públicas, com participação dos interessados.

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A gestão do prefeito João Doria reuniu representantes do Teatro Oficina e do grupo Silvio Santos, ouviu as apelações dos dois grupos em disputa e agirá com respaldo da lei e rigor técnico, respeitando a Lei de Zoneamento em vigor na cidade, as condições técnicas de Tombamento do Teatro Oficina e do bairro da Bela Vista, que envolvem demais órgãos do Patrimônio (como CONDEPHAAT e IPHAN), e as condições financeiras do município, de acordo com as atuais prioridades públicas.” 

 

Entenda a questão

O plano de Silvio Santos é antigo, data do início dos anos 1980, quando o apresentador adquiriu as terras em volta do teatro e tentou comprar o próprio solo do Oficina, cujo projeto arquitetônico é assinado por Lina Bo Bardi (a mesma do Masp e do Sesc Pompeia), mas vinha sendo barrado pelos órgãos de defesa do patrimônio público, que tombaram o prédio e desapropriaram o terreno onde ele se encontra. Arquitetos, assim como a companhia teatral, argumentam que um empreendimento imobiliário ao lado vai descaracterizar o projeto de Lina Bo Bardi, que, além disso, morreu antes de termina-lo. A arquiteta previa construir um parque em volta da sede do grupo de Zé Celso.

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