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2020: o brasileiro foi à bolsa

Cerca de 1,5 milhão de novatos ingressaram oficialmente no jogo, quase dobrando a base pré-coronavírus

Por Luisa Purchio Atualizado em 4 jun 2024, 13h36 - Publicado em 24 dez 2020, 06h00

Historicamente, o brasileiro nunca foi um investidor dado a riscos. Ao contrário, preferia manter seu dinheiro em aplicações seguras, como a boa e velha poupança, ou apostar sem sustos em títulos do Tesouro. Os elevados juros das últimas décadas incentivavam esse comportamento conservador. Mas aí veio a pandemia e chacoalhou os pilares conhecidos, devastando os mercados e fazendo a Selic minguar para 2% ao ano — um índice inédito e baixíssimo que acabou por empurrar as pessoas rumo ao ambiente de altos e baixos da bolsa de valores. Os números dimensionam o vigor com que os brasileiros abraçaram o mercado de ações: cerca de 1,5 milhão de novatos ingressaram oficialmente no jogo, quase dobrando a base pré-coronavírus. Atualmente, 3,2 milhões de registros de CPF estão registrados na bolsa. É um fenômeno salutar, dizem os especialistas, sinônimo do amadurecimento do cidadão comum no trato com suas finanças.

Quem se aventurou na bolsa experimentou seus acentuados aclives e declives, uma montanha-russa que no final das contas encerrou o ano com saldo positivo para aqueles que souberam se posicionar em meio à tormenta. E ela se pronunciou sem tréguas em março, quando os infectados pelo vírus começaram a escalar rapidamente o mundo. Os reflexos nos principais índices do mercado americano (o S&P 500 e o Dow Jones) foram inclementes: em aproximadamente um mês, eles despencaram mais de 30%, e arrastaram junto o Ibovespa, que se retraiu mais de 40%. Daí em diante, não houve espaço para calmaria. A cada vez que subiam os casos de contaminados e lockdowns eram instituídos, as ações caíam. Quando se divulgavam progressos na busca da vacina, elas saltavam. Tamanha volatilidade, no passado, seria suficiente para afugentar os brasileiros, mas não é o que se tem visto. Agora que as ações estão em patamares baixos, passaram a ser consideradas boa oportunidade. Em agosto, sete meses após a grande queda, o S&P 500 batia recorde atrás de recorde, o que gerou ânimo ao Ibovespa. E assim, ainda com emoção, veteranos e neófitos na bolsa aterrissam em um 2021 promissor.

Publicado em VEJA de 30 de dezembro de 2020, edição nº 2719

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