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5G: O Brasil no centro da ofensiva americana contra os chineses

Secretário de segurança dos EUA disse que China vai espionar o país; embaixador americano prometeu crédito de US$ 1 bi para financiar 5G sem a Huawei

Por Josette Goulart Atualizado em 4 jun 2024, 14h50 - Publicado em 20 out 2020, 19h13

O 5G tem trazido algumas preocupações para os pecuaristas que não têm nada a ver com a tecnologia, mas, sim, em como o Brasil vai lidar com a insistência do governo americano em barrar a empresa chinesa Huawei. Os grandes frigoríficos, como pode se notar, não são do setor de telefonia e não vão comprar um equipamento de infraestrutura de quem quer que seja, mas temem a resposta da China caso o Brasil se abrace ao governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A Austrália é logo ali. Para o governo chinês diminuir as compras de carne brasileira e encomendar a dos australianos não precisa muito. Este é só um exemplo de como o Brasil precisará ter cuidado na hora de lidar com a situação que está sendo imposta por Trump . Nesta semana, já quase na reta final das eleições americanas, representantes do governo americano fizeram uma investida agressiva no Brasil.

O secretário de segurança dos Estados Unidos, Robert O’Brien, disse a empresários na Federação das Indústrias de São Paulo, a Fiesp, que, se a Huawei participar como empresa fornecedora de equipamentos para contemplar a rede 5G, ela vai espionar os brasileiros. No dia seguinte, o embaixador americano no país, Todd Chapman, prometeu mais uma vez que vai dar crédito ao Brasil caso o país decida eliminar a Huawei da competição, 1 bilhão de dólares. Lá nos Estados Unidos, o embaixador brasileiro botou panos quentes e disse a jornalistas que a decisão sobre se o Brasil vai ou não banir a Huawei só será tomada mais para frente. Afinal, não faria sentido tomar uma decisão destas sem saber se Trump permanecerá na Casa Branca depois das eleições, em novembro. “É razoável que isso seja olhado com a seriedade que requer o assunto, e essa decisão eu entendo será tomada mais para frente, no início do ano que vem. Não se trata de banir essa ou aquela empresa, trata-se de procurar atender ao interesse nacional brasileiro. Isso que está em jogo”, disse o embaixador Nestor Forster.

É curioso que o chefe da poderosa Agência Nacional de Segurança, a NSA, que ficou conhecida por espionar o mundo todo depois que Edward Snowden jogou a história em todas as manchetes, agora se preocupe com a espionagem internacional. A NSA chegou a monitorar ligações e mensagens de chefes de Estado, segundo as acusações feitas ainda no governo de Barack Obama. Como disse a VEJA o dono de um frigorífico, mas preservando seu anonimato, se não for a China a espionar, serão os Estados Unidos. Os americanos já convenceram alguns países da Europa a banir a Huawei, a exemplo do que eles mesmos fizeram. No Brasil, a empresa tenta se defender dizendo que é um absurdo pensar que ela vá monitorar dados. 

As empresas de telefonia que serão diretamente afetadas defendem o mercado e que todos possam participar livremente da concorrência. A questão é que a Huawei detém, hoje, 45% do mercado de equipamentos para o setor no Brasil e ajudou a baratear o preço da infraestrutura. Além da chinesa, o mercado é dominado pela sueca Ericsson e, em menor escala, pela finlandesa Nokia. Sócio da consultoria Markestrat, José Carlos Lima lembra que o grande incômodo dos Estados Unidos com a China envolve o fato de os chineses terem avançado muito em tecnologia. Para ele, a competição de igual para igual da Huawei no 5G com o Ocidente escancara esta situação. É uma sinuca. Se o presidente Donald Trump se reeleger, o Brasil fica numa encruzilhada já que, enquanto China e Estados Unidos brigam, sobra mais mercado para o Brasil, especialmente no mercado de commodities agrícolas. No caso de vitória do democrata Joe Biden, a guerra comercial com a China tende a ser menos turbulenta, e os Estados Unidos tendem ser mais abertos a negócios com a China — e o Brasil pode perder mercado. Então, como sabiamente disse nesta terça-feira, 20, o embaixador brasileiro nos Estados Unidos, esta não é uma questão para agora. Mas vale lembrar que o presidente Bolsonaro já disse que quem vai decidir é ele.

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