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A aposta de empresas brasileiras na inteligência artificial para melhorar a eficiência

Enquanto isso, o governo lança plano para incentivar seu desenvolvimento no país

Por Luana Zanobia, Márcio Juliboni 11 ago 2024, 08h00

O Brasil nunca perde uma oportunidade de perder oportunidades, já dizia o economista Roberto Campos. Mas a eclosão da inteligência artificial (IA) representa uma nova chance de redenção. Trata-se de um negócio promissor. O mercado global de IA deve crescer 28% ao ano e saltar de 184 bilhões de dólares para 827 bilhões de 2024 a 2030, segundo a consultoria alemã Statista. Se o Brasil acompanhar o ritmo, o mercado de IA por aqui passará de 3,6 bilhões de dólares para 16,3 bilhões no mesmo período. A força da nova tecnologia levou o governo a lançar o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), com investimentos previstos de 23 bilhões de reais até 2028. Quase 14 bilhões irão para incentivar a adoção pelas empresas. Nessa conta, estão 2 bilhões de reais para instalar centros de processamento de dados que consumam energia renovável, em resposta à crescente preocupação mundial com o pesado impacto ambiental do setor de tecnologia. Basta lembrar que uma aplicação de IA consome até 100 vezes mais energia do que uma simples pesquisa no Google. “O Brasil pode se tornar um fornecedor global de soluções de IA alimentadas por energia limpa”, afirma Alessandro Lombardi, presidente da Elea Digital, empresa nacional que tem o banco americano Goldman Sachs como sócio e opera nove data centers.

PLANO - Supercomputador: entre os mais potentes
PLANO - Supercomputador: entre os mais potentes (Nelia Rocha/MCTIC/.)

O PBIA escalou a Petrobras para participar da modernização do supercomputador Santos Dumont, instalado no Laboratório Nacional de Computação Científica, em Petrópolis (RJ). O projeto consumirá 1,8 bilhão de reais em cinco anos, incluindo recursos da estatal, da Fapesp, a agência paulista de fomento à pesquisa, e do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. O objetivo é colocar o Santos Dumont entre os cinco supercomputadores mais potentes do mundo. Em contrapartida, a estatal usará a máquina para aplicações de IA em áreas como inspeção remota de plataformas, caracterização de reservas petrolíferas e modelos aperfeiçoados de produção. “Vamos nos beneficiar desse ecossistema de inovação”, diz Rafael Moraes, gerente de P&D do Cenpes, o centro de pesquisas da Petrobras. Como o plano federal prevê a compra de equipamentos para cinco centros regionais de computação, a empresa também ajudará na implantação da infraestrutura que os conectará a núcleos de pesquisa país afora.

CONTROLE - Centro de dados da Nestlé: a IA monitora a produção no país todo
CONTROLE - Centro de dados da Nestlé: a IA monitora a produção no país todo (./Divulgação)

Como sempre, o setor privado não esperou o governo para abraçar a novidade. Segundo a Bain & Company, a IA é prioridade para 48% das companhias brasileiras, que buscam incrementos de até 15% na geração de caixa, por meio dos ganhos de produtividade trazidos pela nova tecnologia. “O uso de IA permite a automação quase total da produção, reduzindo o tempo das tarefas em cerca de 20%”, diz Felipe Fiamozzini, sócio da Bain. Pioneiras na automação industrial, as montadoras já começam a adotar a inovação. A GM do Brasil criou um sistema de IA para detectar defeitos na carroceria dos veículos. Além de acelerar o processo, a ferramenta elimina possíveis erros humanos. Desenvolvida em parceria com o Instituto Tecnológico de Aeronáutica, a novidade será exportada para as fábricas da GM nos Estados Unidos e na Alemanha. Já a farmacêutica União Química adotou a IA para analisar, em segundos, o crédito de seus mais de 100 000 clientes. Além de abreviar um processo que levava dias, a solução reduziu a inadimplência. “Seria necessário um exército de pessoas para essas análises”, afirma Sérgio Ricardo da Silva, diretor financeiro da União Química.

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arte IA Brasil

Na Nestlé, uma central monitora a produção das catorze fábricas brasileiras. Os dados são analisados por 45 aplicações de IA para prever problemas e melhorar a eficiência. A tecnologia também ajuda os vendedores a selecionar, entre os 1 300 produtos do portfólio, os mais adequados para os mais de 300 000 clientes. “Revolucionamos a interação com eles”, diz Brunno Ragonha, diretor de ciência e análise de dados da empresa. O varejo também se rendeu à inovação. Neste ano, o Magazine Luiza criou uma diretoria específica para a área. Um dos objetivos é treinar o “cérebro da Lu”, a influenciadora virtual da marca, para interagir de modo mais inteligente com os consumidores, sugerindo produtos e esclarecendo dúvidas. A ferramenta está em teste, ajudando na escolha de smartphones. “Muitos preferem ir a uma loja, porque é difícil entender as diferenças entre vários modelos no site”, diz Caio Gomes, diretor de IA da varejista. “A tecnologia resolve isso.” Um dos frasistas mais perspicazes do Brasil, Roberto Campos também disse que o mundo não será salvo pela caridade, mas pela eficiência. Usar a inteligência — tanto a humana quanto a artificial — é um caminho certeiro para isso.

Publicado em VEJA de 9 de agosto de 2024, edição nº 2905

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