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A aposta do no AI PC, uma inteligência artificial para chamar de sua

Chegam ao mercado os laptops e desktops com IA nos dispositivos, uma forma mais segura e personalizável do uso da tecnologia

Por Felipe Carneiro, de Las Vegas
29 jun 2024, 08h00
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  • Quando a pandemia de Covid-19 prendeu todo mundo em casa, os fabricantes de computadores celebraram uma explosão de vendas para empresas e pessoas que precisavam de mais e melhores máquinas para o trabalho remoto ou o ensino a distância. Entre 2019, antes dos lockdowns, e 2021, primeiro ano cheio de home office, o mercado de PCs cresceu mais de 30% (veja o quadro). Como era de esperar, o boom tinha prazo de validade, uma vez que se trata de um produto caro e de vida útil relativamente longa, e a receita de gigantes como Lenovo, Qualcomm e Dell começou a cair. Mas surge uma nova geração de terminais, trazendo chips com até 100 vezes mais poder de processamento do que as CPUs tradicionais, e que promete convencer milhões de consumidores a trocar novamente de computador: os AI PCs. “Todos os novos PCs serão AI PCs até 2027”, vaticinou o fundador e presidente da Dell, Michael Dell, ao anunciar o lançamento da nova linha de computadores pessoais em Las Vegas. “Em pouco tempo, vamos chamá-los só de PCs, assim como chamamos os smartphones hoje simplesmente de telefones.”

    O AI PC, como a sigla em inglês já diz, é o computador pessoal que tem um chip especializado em rodar ferramentas de inteligência artificial. A IA ganhou o mundo em novembro de 2022, quando foi lançado ao público o ChatGPT, que prometia ajudar o usuário na pesquisa e criação de textos. De lá para cá, a evolução da ferramenta foi rapidíssima, assim como o surgimento de concorrentes. Hoje, a criação de sons, vídeos e códigos a partir de uma conversa com o robô é uma realidade. E o Brasil é o quarto país que mais usa o ChatGPT no mundo, com quase 6% do tráfico total da ferramenta de inteligência artificial generativa. O sucesso do modelo desenvolvido pela OpenAI é indiscutível — atingiu 100 milhões de usuários em apenas dois meses, quebrando o recorde anterior de nove meses que o TikTok demorou para alcançar a marca. A adoção da IA no dia a dia, porém, é muito mais lenta depois que a curiosidade inicial é saciada.

    No mundo corporativo, há preocupação legítima e importante com segurança, afinal, o robô se alimenta de todos os dados compartilhados com ele para responder aos demais usuários. Mas há também uma frustração com os resultados obtidos, uma vez que as pessoas buscam respostas específicas em ferramentas que são muito genéricas. “Os chatbots gratuitos para o grande público, como o ChatGPT, foram treinados com dados de toda a internet e não sabem quem é você e do que precisa, a não ser que você explique com muito detalhe”, afirma Ranjit Atwal, diretor de pesquisa da consultoria americana Gartner. “Os AI PCs são menos poderosos, mas sabem exatamente quem você é e do que precisa, de modo que são capazes de ajudar nas suas tarefas, com segurança, numa velocidade impressionante.”

    Mas, ajudar como? Enquanto os grandes modelos como o ChatGPT e o Gemini, do Google, fazem promessas grandiloquentes de responder a qualquer pergunta, realizar grande parte de seu trabalho e criar textos, áudios, vídeos e softwares com facilidade — e têm decepcionado o público —, o AI PC é mais modesto: quer fazer sua vida mais fácil. Com acesso a todos os seus arquivos, e-mails e histórico de uso, o computador de IA consegue ser um assistente pessoal eficientíssimo. Ele pode, por exemplo, analisar seu calendário, e-mails e documentos de trabalho durante a noite, para programar seu dia seguinte com compromissos, prioridades e até a logística, orientando horários e mapas ou agendando um Uber. Escreve respostas a e-mails de rotina, seguindo o tom e o estilo que aprendeu de interações anteriores. Se preciso, busca dados na caixa de entrada, em planilhas, PDFs ou slides para embasar seus textos. Transforma o texto em uma apresentação e o traduz para qualquer língua. E se alguma tarefa exigir uma IA mais poderosa, o PC consegue acessar os grandes modelos na nuvem, tomando o cuidado de manter suas informações protegidas dentro da máquina.

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    Nova geração de notebooks, dotados de IA: além de lançamentos da Dell, há produtos de marcas como HP, Lenovo, Microsoft e Apple
    Nova geração de notebooks, dotados de IA: além de lançamentos da Dell, há produtos de marcas como HP, Lenovo, Microsoft e Apple (Fotos/Divulgação)

    Quem faz do computador um AI PC é a NPU (unidade de processamento neural, na sigla em inglês), projetada para executar algoritmos de inteligência artificial. Enquanto as tradicionais CPUs (unidades de processamento central) fazem um cálculo de cada vez, as NPUs têm milhares de núcleos simples que podem executar cálculos simultâneos. Isso as torna perfeitas para as redes neurais, que envolvem um grande número de operações matemáticas relativamente simples. E o fazem de forma eficiente, executando trilhões de operações por segundo por watt, permitindo que os dispositivos executem IA complexa sem drenar rapidamente a bateria. Isso é crucial para laptops e outros dispositivos móveis. Elas também vêm com memória dedicada de grande largura de banda, por isso podem acessar rapidamente os dados necessários para o treinamento e a inferência da IA. Isso elimina os gargalos que podem ocorrer quando a CPU ou a GPU precisa recuperar dados da memória principal do sistema.

    De um lado, os fabricantes de hardware estão despejando AI PCs no mercado: a Dell lançou cinco modelos, com NPUs da Nvidia e da Intel. A Qualcomm colocou dois modelos com NPU própria, o Snapdragon X Elite, mostrado pelo CEO Cristiano Amon em Taiwan, no início de junho. A Lenovo e a HP lançaram uma gama de laptops e desktops com chips de AMD, Nvidia e Intel. Do outro, tão ou mais importante, Microsoft e Apple estão fornecendo os sistemas operacionais e softwares para tirar proveito de toda essa potência.

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    Qualcomm: o CEO Cristiano Amon mostrou novidades com o chip Snapdragon X Elite
    Qualcomm: o CEO Cristiano Amon mostrou novidades com o chip Snapdragon X Elite (./Divulgação)

    A Microsoft, em parceria com a OpenAI (criadora do ChatGPT), lançou o Copilot, um assistente de IA integrado ao seu pacote Office. Segundo um estudo da consultoria McKinsey, suas ferramentas permitem um ganho de produtividade de até 30% só com a facilidade de achar docu­men­tos e dados. Enquanto isso, a Apple introduziu a Apple Intelligence, uma suíte de recursos de IA, em todo o seu ecossistema. A Siri, seu assistente de voz, ganhou uma turbinada significativa, com a capacidade de engajamento em conversas mais naturais e execução de tarefas mais complexas. “Ainda estamos engatinhando na exploração de todo esse poder computacional, mas o aumento na produtividade já é gigantesco”, diz Joel Liefke, diretor comercial da Microsoft.

    O que Liefke aponta como uma vantagem pode ser, também, o grande problema de correr para comprar um AI PC agora. Há uma chance enorme, quase uma certeza, de que seu computador fique obsoleto em pouquíssimo tempo. Quem adquiriu um AI PC da primeira geração, que saiu em janeiro deste ano — meros seis meses atrás — não consegue rodar uma das principais ferramentas da Microsoft. Tudo bem que a própria empresa reconheceu que nem todas as novidades que anunciou estavam totalmente prontas, e o Recall, um programa que captura a tela de quase tudo que você vê ou faz no computador e permite pesquisar e recuperar itens, processos, vídeos e reuniões em uma linha do tempo, teve seu lançamento adiado até segunda ordem. De qualquer maneira, as primeiras NPUs da Intel entregavam 10 TOPS (trilhões de operações por segundo), enquanto os da AMD iam até 16 TOPS, bem abaixo do mínimo de 40 TOPS exigido para rodar o PC Copilot+. “A inteligência artificial veio para ficar, e quanto antes você aprender a usá-­la, melhor para você e sua empresa”, diz Ethan Mollick, autor do livro Co-Inteligência: Vivendo e Trabalhando com IA. “Mesmo que a ‘maldição do pioneiro’ faça você gastar mais dinheiro ali na frente, o investimento para sair na frente da concorrência vai pagar dividendos.” O hype é real.

    Publicado em VEJA, junho de 2024, edição VEJA Negócios nº 3ue

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