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Ascensão e queda da Forever 21: por que a empresa pede falência

Vanguardista no mercado de moda para jovens a preços mais baixos, varejista ignorou redes sociais e viu concorrentes alcançarem seu público

Por Victor Irajá Atualizado em 2 set 2019, 10h50 - Publicado em 31 ago 2019, 08h06

A rede de lojas Forever 21 está se preparando para entrar com um pedido de falência nos Estados Unidos. Com histórico de atrasos nos pagamentos de fornecedores desde 2016, a empresa precisaria de um aporte de 150 milhões de dólares para continuar operando. Fontes ouvidas pela Bloomberg atestam que a empreitada da varejista para encontrar investidores fracassou e que a resistência do fundador, o empresário sul-coreano Won Chang, em manter-se como controlador da empresa ─ sem diminuir sua participação na divisão societária ─ limitou as frentes possíveis para que a empresa conseguisse angariar investimentos. A rede mantém 815 lojas ao redor do mundo e opera no Brasil desde março de 2014, quando, na inauguração da primeira loja no país, no Morumbi Shopping, na Zona Sul de São Paulo, cerca de 1500 pessoas fizeram fila horas antes da abertura das portas atrás dos itens moderninhos oferecidos pela varejista.

De acordo com a lei de falências americana, o possível movimento da Forever 21 permitiria que a empresa se reestruturasse, livrando-se de estabelecimentos não rentáveis ─ o que deve incluir unidades brasileiras. Mas o que levou uma febre mundial a pedir arrego judicial para fechar as contas?

A resposta está na mudança de comportamento das novas gerações. “O consumo de moda no mundo nos últimos cinco anos registrou uma redução de 100 bilhões de dólares. Houve uma queda de 25% no consumo, muito em função da consciência sobre nossas compras e a mudança no perfil da moda: hoje, o importante é muito mais ser do que ter”, diz Juedir Teixeira, doutor em administração de varejo da JTB Consultoria.

A reestruturação da empresa, com o movimento de encerrar lojas improdutivas ao redor do mundo, tem por objetivo dar resposta a um mercado que mudou radicalmente a sua maneira de fazer compras – e não só na moda. Uma pesquisa feita pelo NZN Intelligence aponta que, entre os consumidores brasileiros com acesso à internet, 74% deles preferem comprar pela rede do que em lojas físicas. Para piorar o quadro para atendentes e balconistas das lojas, segundo um levantamento da Relatório Webshoppers, os jovens de 21 a 34 anos já correspondem a 24% das compras online ─ e atingem, exatamente, a clientela da Forever 21. “A loja foi muito feliz pelo modelo de negócios que ela criou. Uma marca que vende produtos muito baratos para um público jovem, mas se perdeu pelo caminho”, explica o especialista em varejo Ulysses Reis, da Fundação Getulio Vargas (FGV). “A Forever 21, apesar de inovadora, não explorou tanto o mercado nas mídias sociais e não soube oferecer produtos mais baratos online”, explica.

E enquanto a sul-coreana dormiu no ponto, a concorrência aproveitou. Vanguardista na oferta de produtos a preços mais baixos para o público jovem ─ nos Estados Unidos, não é raro encontrar produtos a menos de 10 dólares ─, a varejista viu outras empresas aproveitando-se do novo modelo de negócios. A japonesa Uniqlo e a americana H&M aproveitaram a inércia da Forever 21 nas redes e abocanhou a clientela principal da marca. “A Uniqlo oferece produtos de melhor qualidade e entrou no mercado de forma agressiva, com linguagem muito jovem, merchandising ousado e presença massiva nas redes sociais”, diz Reis, da FGV. “Já a americana investiu na personalização das unidades”, completa ele.

A H&M adéqua o produto ao público de cada país ou comunidade. Conforme o bairro ou cidade nos Estados Unidos, os produtos são mais voltados a um determinado público. Nos bairros onde há predominância de latinos, há moda latina; nos lugares onde há predominância de afrodescendentes, os produtos são voltados a eles – até os atendentes se assemelham ao público alvo das unidades”, encerra Reis.

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