Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

A dicotomia que está disparando os preços dos papeis do Tesouro americano

Títulos disparam para o maior nível em um ano e bolsas despencam. O que está por trás da volatilidade dos mercados?

Por Luisa Purchio Atualizado em 26 fev 2021, 11h30 - Publicado em 25 fev 2021, 19h54

Uma divergência entre teses econômicas leva a uma disparada das taxas dos títulos do Tesouro americano. A grande questão que está em pauta é a inflação e como ela se comportará nos próximos meses com a recuperação da pandemia do novo coronavirus. A situação é delicada e inédita, tanto para os Estados Unidos quanto para o mundo, de difícil previsão.

Nesta quinta-feira, 25, os juros dos papeis do Tesouro para 10 anos dispararam 10,92%, para 1,541%, o maior valor desde janeiro de 2020. Com esse retorno significativo, os investidores migraram em massa do mercado de renda variável para a renda fixa. A Nasdaq, a bolsa americana de tecnologia que disparou com a pandemia, despencou 3,52%, enquanto o índice Dow Jones caiu 1,75% e o S&P 500 baixou em 2,45%. A aversão no mercado internacional  também ajudou a derrubar o Ibovespa, que recuou 2,95%.

O discurso do Federal Reserve é claro e, desde o ano passado, a instituição deixa explícita a sua crença de que a inflação é um movimento bem desejado no país. O primeiro passo foi dado em agosto do ano passado, quando em decisão inédita o Fed transformou os 2% de meta fixa de inflação em meta de média anual de inflação. O Fed já vinha estudando criar um alvo inflacionário, mas com a pandemia isso se acelerou. A mudança de postura do banco central americano vem ao encontro do que os economistas chamam de achatamento da curva de Phillips.

Desenvolvida pelo economista neozelandês William Phillips, trata-se de uma relação inversamente proporcional entre emprego e inflação. De acordo com essa teoria, quanto maior o número de pessoas no mercado de trabalho, maior a inflação. Alguns economistas, no entanto, questionam esta relação, até porque em alguns momentos da história essa dobradinha “causa-consequência” não ocorreu.

O achatamento da curva de Phillips, portanto, é um indício que endossa a tese dessa linha de pensamento. “Nos anos 1970, bastava um leve aumento no emprego para a inflação subir. Hoje precisamos criar muito postos de trabalho para que isso aconteça”, diz Alejandro Ortiz, economista da Guide Investimentos. “O progresso tecnológico, a globalização e o envelhecimento da população são transformações estruturais que blindaram a economia da inflação”, diz ele. O alto desemprego nos Estados Unidos é mais um argumento para quem não acredita no disparo da inflação. A taxa atual é de 6,3%,  cerca de 80% acima dos 3,5% no cenário pré-pandemia.

Continua após a publicidade

Há, porém, quem discorde do Fed – e não são pessoas de opinião irrelevante. Um deles é o economista francês Olivier Blanchard, professor do MIT que foi economista-chefe do FMI de 2008 a 2017, ou seja, durante a crise do subprime, uma das mais fortes que atingiu os EUA. O outro é o economista americano Larry Summers, o professor emérito de Harvard que foi secretário do Tesouro no final da gestão de Clinton e diretor do Conselho Nacional de Economia no governo Obama.

Desde o começo do mês eles vêm publicando textos alertando sobre o risco da alta descontrolada da inflação e nos quais criticam amplamente o pacote de estímulos do presidente democrata Joe Biden. A principal crítica está na injeção de 1,9 trilhão de dólares na economia, que segue para aprovação no Congresso americano. Eles consideram o estímulo excessivo, principalmente ao se somar aos 900 bilhões de dólares aprovados no final do ano passado.

As publicações dessas “celebridades” da economia geram temor nos mercados e impactam nos investimentos. Por isso, na quarta-feira, 24, em meio ao temor à inflação, a bolsa americana disparou com as declarações do presidente do Fed, Jerome Powell. Ele reafirmou ao Congresso que não vê indícios de que os preços nos Estados Unidos crescerão descontroladamente e que não tem pressa para diminuir os estímulos.

Continua após a publicidade

Na data, o índice Dow Jones fechou em patamar recorde, a 31.961 pontos, quase 300 pontos acima do último recorde histórico, em uma alta de 1,35% em relação ao fechamento anterior. O maior apetite ao risco levou os investidores do Tesouro americano a venderam os seus papeis, o que fez seus juros subirem. Porém, as dúvidas continuam pairando e a alta nas ações não se sustentou nesta quinta-feira.

Só o tempo dirá quem tem razão, afinal, o passado da Covid-19 é recente demais para se tirar conclusões para o presente. Enquanto isso não acontece, os ativos se movimentam no terreno da especulação e seguem para os indicadores que apontam a maior rentabilidade. A volatilidade deve permanecer.

Publicidade

Imagem do bloco

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.